As promessas dos talibãs de que tinham mudado de atitude em relação aos direitos das mulheres e à sua participação na vida pública começaram a cair poucos dias após voltarem ao poder no Afeganistão, há um ano.
Eis a cronologia dos principais acontecimentos que evidenciam a contínua violação dos direitos das mulheres e raparigas no último ano, recolhidos pela Amnistia Internacional.
24 de Agosto de 2021
Apenas 10 dias após a tomada de Cabul, o porta-voz talibã emitiu instruções às mulheres e raparigas para ficarem em casa, alegando que os soldados que patrulhavam as ruas ainda não tinham sido “treinados” para as respeitar e, por isso, poderiam constituir uma ameaça para elas.
Setembro de 2021
Vários ministérios e agências governamentais dão instruções às funcionárias para ficarem em casa.
À excepção das trabalhadoras da área da saúde e gabinete de emissão de passaportes, as mulheres não foram autorizadas a regressar e perderam os seus empregos.
As raparigas afegãs não devem jogar críquete ou qualquer outro desporto, e um porta-voz dos talibãs diz mesmo que o papel das mulheres é “dar à luz”.
17 de Setembro de 2021
Meninas acima do 6.º ano de ensino deixam de estar autorizadas a frequentar escolas secundárias após a sua reabertura.
Os talibãs ordenam o regresso à escola apenas a rapazes, e não reabrem as escolas para raparigas do 7º ao 12.º ano.
Os talibãs reprimem repórteres durante os protestos de mulheres em Cabul.
26 de Dezembro de 2021
Os talibãs anunciam que as mulheres não estão autorizadas a viajar mais de 72 quilómetros sem o marido ou um ‘mahram’ (um homem da família com quem nunca poderiam casar, como o pai, o avô, ou um irmão).
Os taxistas são instruídos a não transportar mulheres que não estejam a usar ‘hijab’ (veste preconizada pela doutrina islâmica que cobre a cabeça, incluindo rosto, e parte do corpo) “adequado”.
Início de Março de 2022
Surgem relatos de que as mulheres em várias regiões, incluindo Bamiyan e Ghazni, foram proibidas de visitar centros de saúde sem um ‘mahram’, sem o qual as mulheres são rejeitadas e até espancadas por tentarem aceder aos cuidados de saúde.
Sabe-se que a fome leva famílias a entregar meninas para casamento em troca de dote.
27 de Março de 2022
Os talibãs emitiram instruções às companhias aéreas afirmando que as mulheres deixam de estar autorizadas a voar dentro do Afeganistão ou internacionalmente sem um ‘mahram’.
O Ministério da Pregação, Orientação, Propagação da Virtude e Prevenção do Vício emite um comunicado em que diz que os parques de Cabul passam a ter duas diferentes para homens e para mulheres: as mulheres só podem visitar parques de diversões aos domingos e às terças-feiras, enquanto os homens podem ir de quarta a sábado.
7 de Maio de 2022
O ministro interino para a Propagação da Virtude e a Prevenção do Vicio, Khaled Hanafi, decreta que as mulheres devem usar ‘hijab’ fora das suas casas, mas que a melhor forma de observar o ‘hijab’ é evitar sair completamente de casa.
O decreto estabelece ainda que as formas de ‘hijab’ mais apropriadas são a ‘burca’ (uma veste de corpo inteiro com apenas uma grelha de tecido sobre os olhos) ou o ‘niqab’ (um manto preto abrangente que deixa apenas os olhos descobertos)
23 de Maio 2022
Os talibãs emitem um decreto pedindo às apresentadoras de televisão cubram os rostos enquanto estão no ar.
Jornalistas afegãos cobrem o rosto em solidariedade com as mulheres.
29 de Junho de 2022
Os talibãs reúnem 3.000 estudiosos da religião para discutir a situação no Afeganistão sem a participação de nenhuma mulher nos trabalhos.
Apesar de um anúncio anterior declarando que o acesso das raparigas à educação e o direito das mulheres ao trabalho estaria na agenda, na reunião de três dias nenhum dos temas foi abordado.
Regime talibã rejeita pedido da ONU para reverter restrições às mulheres.
13 de Agosto de 2022
Os talibãs dispararam para o ar em Cabul para dispersar uma manifestação de mulheres que exigiam o direito ao trabalho e à educação, um ano depois de os islamistas terem chegado ao poder no Afeganistão.
Com SicNotícias