Uma engenheira arguida no processo da derrocada de terras, em 2013, em Mesão Frio, Guimarães, disse esta terça-feira que apenas assinou, enquanto estagiária, os projectos de arquitectura e de especialidades do empreendimento, acrescentando que nunca visitou as obras.
A arguida, hoje com 48 anos, explicou no Tribunal Local Criminal de Guimarães que, em 2004, assinou os projectos de arquitectura e de especialidades – que abrangem, nomeadamente, os arranjos exteriores, a estabilidade, a rede de águas ou as águas pluviais -, do empreendimento relativo à construção de 10 casas de habitação naquela freguesia do concelho de Guimarães.
A engenheira disse, perante o juiz, que à data era estagiária num gabinete de arquitectura, engenharia e topografia, acrescentando que “se limitou” a assinar os documentos que lhe forem entregues pelo então proprietário do gabinete, que era topógrafo.
“Confiei no senhor Júlio e assinei. Tinha uma declaração da Ordem [dos Engenheiros] como estagiária e podia assinar projectos. Limitei-me a assinar os projectos, porque o senhor Júlio era topógrafo e não os podia assinar”, explicou a arguida.
Questionada pelo juiz sobre se, tecnicamente, concordou com os projectos, a engenheira respondeu “que estava a começar” a carreira, dizendo que “olhou” para os mesmos, reiterando que confiou no então seu chefe.
A arguida, que está a ser julgada juntamente com outro engenheiro civil, à data director de obra, assumiu também que “nunca” visitou as obras.
Nos autos estão projectos assinados pela arguida em 2004 – o de arquitectura – e em 2006, os de especialidades, quase dois anos após o início do estágio que, segundo a própria, seria de um ano.
A engenheira indicou ao tribunal que nesses quase dois anos esteve sempre como estagiária, de acordo com a declaração que tinha da Ordem dos Engenheiros que, disse, nunca alterou essa situação.
SOLO “MUITO FRACO”
Na parte da tarde foi ainda ouvido o professor de engenharia civil da Universidade do Minho que liderou a equipa que elaborou um estudo pedido pela Câmara de Guimarães, logo após a derrocada, para se apurar as causas do deslizamento de terras.
O perito foi claro em afirmar que teria sido de “bom senso” ter realizado um estudo geotécnico, para se perceber as propriedades do solo e para se projectar as fundações necessárias, “e evitar situações” como a que aconteceu em 2 de Março de 2013.
A equipa concluiu que o solo era “muito fraco”, com resíduos, envolvendo um aterro, que, com a água, “diminuía a capacidade de resistência à carga”.
O perito deu ainda conta da existência de uma linha de água, que estava na carta militar, mas que nunca foi detectada pelos responsáveis pela obra.