É errado pensar que o Acidente Vascular Cerebral (AVC) atinge apenas os mais velhos, porque pode ocorrer em qualquer idade, sobretudo, entre os que comportam maiores riscos cardiovasculares e estilos de vida pouco saudáveis”. O alerta é do cirurgião João Franklim.
“Não chega abordar esta tragédia, de longe-a-longe, quando surge alguma efeméride”, como o Dia Nacional do Doente com AVC (31 de Março), ou o Dia Mundial do AVC (29 de Outubro) – que este domingo se assinala por todo o país – “ou a propósito de alguma figura pública que tenha sido vítima de AVC, não obstante toda a atenção despertada nestes momentos, útil e meritória, nos poder causar toda a solidariedade”, afirma ao PressMinho o cirurgião, natural da Ponte da Barca, coordenador do Serviço de Cirurgia Vascular do Hospital Privado Braga Centro, e uma longa experiência profissional.
O clínico lembra que o AVC constitui uma “epidemia silenciosa”. “Em cada hora, seis pessoas sofrem um AVC, das quais metade corre sério risco de vida e as restantes grave incapacidade e dependência”. Referindo que “o AVC é uma tragédia, conhecida e suportada por dados oficiais, cuja gravidade exige constantes alertas e divulgação”, contudo, adianta, “é uma doença tratável e, acima de tudo, evitável”, pelo que “não basta informar, é preciso actuar”.
“É fundamental combater e corrigir os seus principais factores de risco como a hipertensão arterial, a diabetes mellitus, o tabagismo, o excesso de peso, o sedentarismo, etc”, algo possível através da promoção de estilos de vida saudável. Mas, simultaneamente, é fundamental um rastreio mais amplo da doença nas artérias carótidas (‘ateromatose’), e proceder ao seu tratamento cirúrgico para evitar os AVC de causa tromboembolica.
RECURSOS MAIS EFICAZES
Paralelamente, acrescenta João Franklim, obriga à aplicação de recursos assistenciais mais eficazes, em tempo útil, incluindo o recurso a meios de diagnóstico e terapêuticos que melhorem a sua prevenção primária e secundária. Incluindo a cirurgia às carótidas, hoje efectuada com o doente acordado e excelentes resultados.
“A mensagem que melhor traduz a visão actual deste problema refere que o AVC é uma catástrofe, prevenível e tratável”- e é neste contexto, que se devem basear todas as políticas de saúde e procedimentos assistenciais”, defende.
Os AVC são responsáveis, a nível mundial, por 10% de todas as mortes. Acresce que quanto mais pobres as populações, maior a incidência da doença.
“Mais de 85% dos AVC ocorrem nos países e regiões com menores recursos culturais e financeiros. Esta realidade contrasta com a dos países mais ricos, dada sua maior capacidade de intervenção para reduzir os riscos de AVC, e onde se afectam mais recursos para a investigação, educação e campanhas de prevenção, além dos meios técnicos mais evoluídos para tratar, a tempo, as patologias cardiovasculares responsáveis pelos acidentes vasculares cerebrais, ou para tentar reabilitar quem precisa por ter sofrido um AVC”, conclui.
Fernando Gualtieri (CP 1200)