Os enfermeiros que trabalham nas áreas de covid-19 do Centro Hospitalar Universitário de São João, no Porto, estão desde Março sem receber o subsídio extraordinário de risco destinado aos profissionais de saúde que estão na linha da frente do combate à pandemia.
A denúncia é do presidente do Sindicato dos Enfermeiros – SE, Pedro Costa, no final de uma reunião com vários enfermeiros desta unidade hospitalar, onde ficou ainda patente a falta de recursos humanos.
“Estamos a falar de enfermeiros que trabalham em áreas onde lidam directamente com doentes covid-19 e que, em muitos casos, receberam apenas dois meses de subsídio de risco”, frisa Pedro Costa.
Para o presidente do Sindicato dos Enfermeiros “esta é uma situação inaceitável e não reflecte qualquer tipo de valorização e reconhecimento aos profissionais que têm dado o melhor de si no combate à pandemia”.
Além da falta de pagamento deste subsídio, o sindicato foi ainda confrontado com “a ilegalidade da existência de uma bolsa de horas”.
Pedro Costa explica que embora essa bolsa não “apareça reflectida nos horários, por ser ilegal, há uma contabilidade das horas a mais que são feitas pelos enfermeiros e que, além de não serem pagas como horas extraordinárias, apenas podem ser gozadas em períodos aceites pelo hospital”.
A existência da bolsa de horas, onde muitos enfermeiros acumulam “já mais de cem horas”, é, no entender do presidente do SE, “uma forma de contornar a carência de enfermeiros e, ao mesmo tempo, evitar um contínuo aumento dos gastos com horas extraordinárias”.
Numa altura em que o país está a entrar no pico do período de actividade gripal, com aumento do número de casos de covid-19 e um incremento da vacinação, Pedro Costa defende que “é urgente que as administrações hospitalares tenham mais autonomia para contratar enfermeiros de forma a suprir estas necessidades”.
“Os hospitais estão cada vez mais sobrecarregados de doentes covid, mas não estão a deixar de fazer as consultas e cirurgias, sempre com os mesmos recursos humanos”, acrescenta este dirigente.
Neste centro hospitalar, só nos primeiros dez meses do ano, segundo dados do portal da Transparência do SNS, foram registados mais 19 mil episódios de urgência, mais 15 mil cirurgias e mais 72 mil consultas que no mesmo período de 2020.
Trabalho que, explica o presidente do SE, é efectuado com um quadro de profissionais em tudo similar ao que existia no início do ano. “E a verdade é que os enfermeiros, tal como os demais profissionais de Saúde do CHUSJ, têm sido chamados a colaborar na recuperação de listas de espera para cirurgias, consultas e exames complementares de diagnóstico e terapêutica “, conclui o dirigente.