Cerca de centena e meia de enfermeiros do sector privado concentrou-se esta quinta-feira junto aos hospitais CUF Descobertas, em Lisboa, e Lusíadas, no Porto, exigindo, entre outras medidas, o aumento salarial de 10% para todos os profissionais. As administrações consideram esta greve “extemporânea” e que “a muito breve trecho” haverá um acordo.
Prevista para os turnos da manhã e da tarde, esta é a primeira greve dos cerca de 4.200 enfermeiros que trabalham nas 75 unidades de saúde abrangidas pela Associação Portuguesa de Hospitalização (APHP).
Os enfermeiros destas unidades privadas reclamam a implementação das 35 horas semanais e a regulação dos horários de trabalho, um acréscimo remuneratório mensal para quem trabalha por turnos e o pagamento do regime de prevenção.
Além disso, reivindicam o aumento da compensação das chamadas “horas penosas” trabalhadas à noite, nos fins de semana e feriados, assim como um aumento salarial de 10% e do subsídio de refeição para todos os enfermeiros e 25 dias úteis de férias por ano.
Aos jornalistas, no local, o presidente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), José Carlos Martins, denunciou “pressões inqualificáveis” aos enfermeiros por parte das instituições privadas.
No Porto, cerca de 50 enfermeiros do hospital privado Lusíadas, manifestaram-se esta quinta-feira igualmente por aumentos salariais de 10%, 35 horas semanais de trabalho e o pagamento do regime de prevenção, adiando “centenas” de cirurgias, segundo a coordenadora regional do Porto de SEP, Fátima Monteiro, mas que os serviços mínimos e situações de urgências cirúrgicas estão a ser assegurados.
“Os enfermeiros não fazem greve porque querem, mas porque a administração não dá respostas às reivindicações”, acreditando que esta será a primeira de “muitas greves” porque a insatisfação é “tremenda”, frisou.
“Esta é a primeira greve da hospitalização privada, é um facto novo, mas teve uma expressão muito significativa e sabemos que muitos dos colegas que aqui estão sofreram uma forte pressão da instituição, mas tiveram a coragem de vir, já outros não conseguiram ultrapassar essa pressão”, salientou Fátima Monteiro.
NEGOCIAÇÕES EVOLUEM
O presidente da APHP, Óscar Gaspar, recordou esta quinta-feira aos jornalistas que já houve cinco rondas de negociações desde Outubro de 2022.
Segundo o responsável, as reuniões têm decorrido com “propostas que foram evoluindo de uma parte e de outra”.
“Na passada terça-feira apresentámos uma nova proposta e, portanto, estando as negociações em aberto, pareceu-nos que esta greve era extemporânea. Isto vem pôr em causa os legítimos direitos dos trabalhadores (…), mas as negociações estão a avançar”, adiantou.
Óscar Gaspar afirmou que a posição da APHP passa por um aumento salarial de 6%.
“Estamos a falar de 1.145 euros, que podiam já estar a ser aplicados se tivéssemos chagado a acordo. O nosso aumento de 6% é superior àquilo que foi o acordo de médio-longo prazo negociado na concertação social, é superior aos 5,1% que estão a ser aplicados na função pública e nós aqui entendemos que era um valor razoável. Estamos a falar de pelo menos de 55 euros de aumento por mês para os enfermeiros e um subsídio de alimentação de seis euros”, salientou.
O presidente da APHP mostrou-se a ainda convencido de que, “a muito breve trecho”, haverá um acordo entre o SEP e os hospitais privados.
Sobre as acusações de pressões das instituições privadas sobre os enfermeiros para que não exercessem o direito à greve, Óscar Gaspar garantiu desconhecer essa situação.
“Desconheço de todo. Nós, na associação, nem sequer recebemos um pré-aviso de greve. Agora, o direito à greve é absolutamente legítimo e respeitado. Não me passa pela cabeça que nenhum sindicato, este ou outro, tivesse dificuldade de se manifestar”, sublinhou.