Josu Ternera, ex-dirigente histórico da ETA, e homem cuja voz anunciou a dissolução daquele grupo terrorista, foi detido nos Alpes franceses. Estava em fuga desde 2002.
O ex-líder da ETA, José Antonio Urruticoechea, mais conhecido como Josu Ternera, foi detido na manhã desta quinta-feira em Sallanches, nos Alpes franceses, depois de ter estado 17 anos em fuga. Esta detenção de Josu Ternera ter anunciado a dissolução e desmantelamento da ETA, o que pode levar a um derradeiro ponto final na história daquele grupo terrorista, que matou pelo menos 829 pessoas.
Josu Ternera foi surpreendido por uma operação da Guardia Civil (Espanha) com a Direction Générale de la Sécurité Intérieure (França) no parque de estacionamento de um hospital, naquela localidade francesa. Depois da detenção, Josu Ternera, que terá um cancro não identificado, foi hospitalizado.
Josu Ternera, de 69 anos, foi um dos últimos líderes da ETA, até aquela organização terrorista ter anunciado a 3 de maio de 2018 a sua dissolução e desmantelamento total. Numa mensagem gravada num vídeo igual a tantos outros, com três encapuzados sentados a uma secretária rodeada por imagens alusivas à ETA e também pela bandeira do País Basco, um dos militantes ali sentados dava por terminado o “ciclo histórico e a função” da ETA e acrescentou: “A ETA surgiu deste povo e agora dissolve-se nele”. É precisamente a voz de Josu Ternera que se ouve naquele vídeo.
A história da ETA e de Josu Ternera têm vários pontos em comum, já que o ex-líder detido esta quinta-feira atravessou grande parte do período da “luta armada” daquele grupo, que matou pelo menos 829 pessoas.
Josu Ternera estreou-se como membro da ETA numa acção que consistiu na vandalização de campas nas vésperas do Dia de Todos os Santos. Tinha 18 anos quando entrou. Depois dessa prova iniciática, avançou para acções cada vez mais violentas — para as quais foi essencial a sua especialização em explosivos, utilizados tanto em atentados como em assaltos a bancos e empresas.
O caso mais violento em que Josu Ternera esteve envolvido remete para 11 de Novembro de 1987. Na manhã daquele dia, uma bomba explodiu em Saragoça, mais propriamente numa residência onde viviam guardas e as suas famílias. Ao todo morreram onze pessoas, entre as quais cinco menores — dos três aos 16 anos. À altura dos factos, Josu Ternera já fazia parte da direção da ETA, à qual ascendeu depois da morte de Domingo Iturbe Abasolo (mais conhecido como Txomin Iturbe) na Argélia.
A 11 de Janeiro de 1989, Josu Ternera viria a ser detido em Bayonne, localidade francesa próxima dos Pirinéus e que também faz parte do território para o qual os separatistas bascos defendem a independência. Em 1990, foi condenado a dez anos de prisão em França, mas, quando já levava mais de metade da pena cumprida, foi extraditado para Espanha em 1996. No tempo em que esteve preso, fez um curso de cozinha por correspondência e chegou a escrever um livro de receitas para recuperar de greves de fome — começava nos caldos e passava depois para pratos mais substanciais.
Em 2000 foi libertado e, no seguinte, concorreu às eleições para o parlamento basco nas listas do Euskal Herritarrok (partido abertzale entretanto ilegalizado) e foi eleito. Como deputado, chegou a ser membro da Comissão de Direitos Humanos daquele parlamento, por designação dos partidos independentistas.
A carreira política de Josu Ternera foi abruptamente interrompida quando, em 2002, foi constituído arguido pelo atentado de 1987 em Saragoça. Perante este desenvolvimento, Josu Ternera tornou à clandestinidade e o Tribunal Supremo emitiu um mandado de captura internacional, que foi aceite pela Interpol.
Em 2017, o militante da ETA foi condenado à revelia a oito anos de prisão, por pertencer a um grupo terrorista. Tudo indica que será, agora, essa a pena que terá de cumprir — mas nada invalida que não venha a ser extraditado para Espanha, caso haja um pedido nesse sentido.
Fonte: Observador