Centenas de estudantes manifestaram-se esta terça-feira em Lyon e noutras cidades de França, incluindo Paris, em choque pela imolação em plena rua de um rapaz de 22 anos, e em denúncia da precariedade que afecta grande parte da população universitária francesa.
O estudante, Anas Kournif, anunciou o ato através de uma mensagem na sua página do Facebook – entretanto encerrada – aproveitando para fazer dele um protesto político, frente ao Centro Regional de Obras Universitárias e Escolares, CROUS, de Lyon, antes de se regar com gasolina e incendiar-se, na sexta-feira passada.
“Se estou a visar o edifício do CROUS não é por acaso. Pretendo um lugar político, o Ministério do Ensino Superior e da Pesquisa e, por extensão, o Governo”, começou por explicar Kournif, antes de abordar a sua situação.
Inscrito em Estudos Políticos, A.Kournif perdeu os 450 euros que recebia em bolsas pelo facto de ser repetente do segundo ano do curso, pela terceira vez.
“Este ano, ao fazer um terceiro L2 [segundo ano da licenciatura], não tinha bolsas e, mesmo quando as tinha, 450 euros por mês, isso é suficiente para viver?”, perguntou o jovem.
O estudante, igualmente membro do sindicato estudantil Solidaires étudiant-e-s, apontou depois o dedo transversalmente a toda a classe política, apelando à luta.
“Acuso Macron, Hollande, Sarkozy e a UE de me ter matado, ao criar incertezas sobre o futuro de todos os ES, acuso também Le Pen e os editorialistas de ter criado receios mais do que marginais”, concluiu.
De acordo com o Solidaires, que apelou a manifestações em meia centena de cidades, o gesto “extremo” de Kournif, ilustra uma precariedade comum.
“Não estamos a salvo de outras tentativas de suicídio”, afirmou um estudante, através de um altifalante durante os protestos de terça-feira, exigindo “uma tomada de posição publica do Ministério”.
Kournif foi hospitalizado com 90 por cento do corpo queimado e, terça-feira, cinco dias depois de se ter imolado, permanecia entre a vida e a morte.
Calcula-se que, em França, um estudante em cada dois tenha de trabalhar enquanto estuda, para sobreviver. Cerca de 19 por cento vivem numa situação de pobreza.
Redacção com RTP