O eurodeputado social-democrata José Manuel Fernandes, coordenador do Partido Popular Europeu (PPE) para a comissão parlamentar de Orçamentos, criticou hoje a candidatura da comissária Kristalina Georgieva à liderança da ONU, considerando que é prejudicial à União Europeia.
Em declarações à Lusa, o deputado indicou que hoje mesmo, numa reunião da comissão parlamentar de Orçamentos, já teve oportunidade de criticar, de forma “um bocado dura”, o anúncio de que a Comissão Europeia concedeu licença sem vencimento a Georgieva, atribuindo temporariamente a pasta do Orçamento ao comissário da Energia, Gunther Oettinger, de modo a que a comissária búlgara possa candidatar-se ao cargo de secretário-geral da ONU, tal como anunciou o governo búlgaro.
Segundo José Manuel Fernandes, esta candidatura e a suspensão do mandato da vice-presidente da Comissão “não é compreensível num momento de negociações cruciais”, sobre o Orçamento da União para 2017, mas também de revisão do quadro financeiro plurianual.
Apontando que, desde logo, “há uma questão de princípio, de que os comissários devem fazer os seus mandatos até final”, José Manuel Fernandes considera que esta substituição de Georgieva por Oettinger é particularmente prejudicial à UE pois “o comissário da Energia não conhece dossiers que são fundamentais”, pelo que “traz instabilidade à Comissã”» num momento particularmente importante.
Do ponto de vista político, José Manuel Fernandes também lamenta o surgimento de uma “candidatura que procura aqui um atalho, em vez de seguir o percurso que os outros candidatos fizeram”, lembrando que António Guterres já se sujeitou a cinco votações.
Apesar de Georgieva pertencer à mesma família política europeia, o PPE, e de admitir conhecê-la melhor do que ao antigo primeiro-ministro socialista português, José Manuel Fernandes diz não ter dúvidas de que António Guterres é quem merece a eleição para o cargo de secretário-geral da ONU.
“Kristalina Georgieva tem qualidades que eu aprecio e que tive oportunidade de verificar nas centenas de horas e reuniões intermináveis que já passámos em trabalho, e no contacto quase semanal que temos, como a paciência e procura de consensos. Mas isso não invalida que faça as minhas considerações e não invalida que considere que António Guterres está bem preparado, merece o cargo, sujeitou-se a todo um procedimento e às regras da transparência, e as votações que tem tido não são obra do acaso, são mérito dele”, disse.
“Estou certo que ficaríamos melhor servidos (com a eleição de António Guterres), e não teríamos este prejuízo que já começa a ser visível num momento crucial da União”, reforçou.