Um ex-aluno da Universidade do Minho sugere novas possibilidades para tratar o tipo mais perigoso de cancro de pele – o melanoma, através da ativação do sistema imunitário do próprio paciente.
O estudo publicado na prestigiada revista ‘Nature’ prova pela primeira vez que o sistema imunitário obriga os tumores a adaptarem-se e ganharem resistências graças a alterações genéticas. Esta descoberta sobre mecanismos de adaptação abre portas para o desenvolvimento de terapias mais eficientes, realça o cientista Noel Miranda.
De acordo com a Reitoria, a investigação avaliou a interação entre as células cancerígenas e o sistema imunitário de pacientes com melanoma em estado avançado submetidos a imunoterapia, um tratamento para estimular os mecanismos de defesa. Os doentes foram acompanhados durante um período superior a dez anos. Concluiu-se que os tumores tendem a adaptar-se a médio prazo, alterando-se geneticamente e deixando, assim, de ser reconhecidos pelo sistema imunitário”, esclarece o agora investigador do Centro Médico da Universidade de Leiden (Holanda).
“Era algo que já se sabia que acontecia, das teorias de evolução clonal, mas nunca tinha sido provado do ponto de vista genético”, acrescenta, adiantando que, com esta descoberta, passa a ser possível “adaptar as estratégias de administração de imunoterapias e, deste modo, combater a doença de uma forma mais eficaz”. Atualmente são “atacadas” as alterações genéticas mais comuns, mas o objetivo é desenvolver métodos que permitam lidar com a heterogeneidade dos tumores.
Além de Noel de Miranda, o trabalho envolveu investigadores da Universidade de Leiden, do Instituto Holandês de Cancro, do Hospital Universitário de Herlev (Dinamarca) e da empresa AIMM Therapeutics (Holanda). Em Portugal surgem 1.000 novos casos de melanoma por ano.
“A incidência dos vários tipos de cancro da pele tem vindo a aumentar devido, essencialmente, à mudança de comportamentos a favor de uma exposição aos ultravioleta exagerada ou inadequada”, realça o cientista de 34 anos, natural da Póvoa de Varzim.
Três bolsas num ano para estudar cancro intestinal
Entretanto, Noel de Miranda foi premiado durante o último ano com três bolsas, num total de 775 mil euros, atribuídas pela Associação Americana para a Investigação do Cancro, pela Fundação Alpe d’HuZes, em conjunto com a Sociedade Holandesa de Cancro, e, mais recentemente, pela Organização Holandesa para a Investigação Científica. O objetivo é prosseguir o estudo no tratamento do cancro intestinal, que é a segunda causa de morte por doença oncológica em Portugal.
O investigador é licenciado em Biologia Aplicada pela UMinho, tendo desenvolvido o doutoramento na Universidade de Leiden e o pós-doutoramento no Instituto Karolinska (Suécia). Já publicou 33 artigos em revistas internacionais.
Luís Moreira (CP 1200)