O projeto da Universidade do Minho para a conservação e reabilitação da Estação Central da Beira, em Moçambique, foi premiado com 160 mil euros pela Fundação Getty, em Los Angeles, EUA. A Reitoria adianta que a intervenção é considerada urgente após o recente ciclone tropical Idai e quer adicionar novas funções ao complexo.
Este é um dos dez edifícios marcantes do século XX a nível mundial que são agora apoiados pela Getty, num total de 1.4 milhões de euros e no âmbito da sua iniciativa “Keeping It Modern”, que, em cinco anos, já contribuiu para planear e investigar a conservação de 64 edifícios modernistas em todo o mundo.
A Estação Central da Beira, ex-libris da cidade e término do sistema ferroviário que liga o porto ao interior africano, foi inaugurada a 1 de outubro de 1966 e é da autoria dos arquitetos Francisco José de Castro, João Garizo do Carmo e Paulo de Melo Sampaio.
Com uma linguagem ortodoxamente filiada na arquitetura do Movimento Moderno internacional do segundo pós-guerra (pilotis, quebra-luzes, arcos e abóbadas parabólicas e catalãs, grelhagens de ventilação, murais cerâmicos, entre outros), compõe-se de três corpos distintos articulados entre si: átrio, bloco da administração e zona do cais.
“As patologias construtivas e funcionais que apresenta, após mais de 50 anos de utilização, foram agravadas pela passagem do furacão Idai, nomeadamente pela destruição de caixilharias e quebra-luzes da fachada sudoeste”, sublinha a Universidade.
PLANO
A equipa da UMinho é liderada por Paulo Lourenço, do Instituto de Sustentabilidade e Inovação em Engenharia de Estruturas (ISISE), e por Elisiário Miranda, no Laboratório de Paisagens, Património e Território (Lab2PT), ambos em Guimarães.
Conta com a parceria de arquitetos e engenheiros da Portos e Caminhos-de-ferro de Moçambique e da Universidade Eduardo Mondlane. O grupo vai assim propor um plano de conservação e usos alternativos para o espaço. Vai também compilar desenhos históricos, fotos, histórias orais e mapear danos estruturais. Parte desse percurso já foi traçado em estudos anteriores da UMinho.
No final, o dossiê ajudará os decisores a melhorar as utilizações atuais e a aliar novas funcionalidades, seguindo as práticas mais recentes da conservação, diz Paulo Lourenço, professor catedrático da Escola de Engenharia da UMinho. Que acentua: “Este trabalho pretende ser partilhado com a África lusófona, elevando o nível e as práticas de conservação do património arquitetónico moderno, bem como o conhecimento das ferramentas de última geração neste âmbito”.
REUTILIZAÇÃO
A chamada “reutilização adaptativa” dos edifícios e os desafios de manutenção e conservação são transversais às propostas dos outros
edifícios modernistas a serem financiadas pela Fundação Getty.
Em concreto, foram também escolhidos o Monumento Buzludzha (Bulgária), o Palácio de Exposições de Turim (Itália), a Villa E-1027 (França), a Igreja Cristã do Norte, a Miller House (ambas em Indiana, EUA), o Museu Nacional do Uganda, o Laboratório de Química da Universidade Tecnológica de Kaunas (Lituânia), a Escola Superior de Comércio Manuel Belgrano (Argentina) e o Paraninfo da Universidade Laboral de Cheste (Espanha). Para o diretor da Fundação Getty, Joan Weistein, a iniciativa Keeping It Modern tem tido impacto coletivo positivo: “Os proprietários dos edifícios planeiam estratégias cada vez mais abrangentes e a longo prazo”.
Luís Moreira (CP 8078)