O fundador da editora Orfeu, Arnaldo Trindade, considerou esta quarta-feira “absolutamente ridícula” a proposta da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) de trasladar os restos mortais de José Afonso para o Panteão Nacional.
“Penso que se o José Afonso fosse vivo recusaria isso. Ele recusou sempre todas as honras, todas as comendas e condecorações. Quem conheceu o Zé de perto sabe que ele acharia ridículo. Ele era uma pessoa de princípios e honrarias para ele não. Ele queria outras coisas, queria que as pessoas vivessem bem, era um utópico”, considerou Arnaldo Trindade.
Em comunicado divulgado na terça-feira, a SPA defendeu que os restos mortais do músico José Afonso devem ser trasladados para o Panteão Nacional.
“É este o tributo e é esta homenagem que Portugal deve a quem como mais ninguém o soube cantar em nome dos valores da liberdade, da democracia, da cultura e da cidadania”, lia-se na nota.
A SPA “assume publicamente o compromisso de lutar por este legítimo e inadiável acto de consagração que deverá coincidir com os 90 anos do nascimento [de José Afonso] e com os 45 anos do 25 de Abril”.
ZÉLIA AFONSO: SURPREENDIDA
Também a viúva do cantor Zeca Afonso, Zélia Afonso, disse estar surpreendida com a proposta da translação dos restos mortais do cantor para o Panteão Nacional.
“A única coisa que eu posso acrescentar é dizer que foi uma surpresa e que o Zeca pediu que fosse [sepultado] em campa rasa, em Setúbal, e eu estou determinada” a que isso continue, disse Zélia Afonso à Lusa.
Zélia disse ainda que não compreende o porquê de a Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) ter apresentado essa proposta agora.
Apesar de qualquer um ser livre de apresentar uma proposta, a viúva referiu que “cabe à família” decidir. “Não ofende ninguém, não perturba nada. A mim, por acaso, perturba-me porque tenho de responder”, disse, acrescentando que a família irá tomar uma decisão sobre a proposta.