A continuidade da greve de fome iniciada pelo professor Luís Sottomaior Braga às 00h00 de terça-feira, em Viana do Castelo, em defesa da escola pública vai ser avaliada provavelmente ainda esta sexta-feira, após o docente ter sofrido nova crise de hipoglicemia.
Contactado pela agência Lusa, César Brito, do grupo de professores que acompanha Luís Sottomaior Braga, adiantou que o docente foi sujeito a uma recolha de sangue para análise, cujo resultado determinará a continuidade do protesto.
César Brito, professor na escola secundária de Monserrate, garantiu que, “animicamente”, Luís Sottomaior Braga “está muito empenhado e com muita vontade de continuar a greve de fome, por tempo indeterminado, por estar, mentalmente, muito lúcido”.
“Tudo vai depender do resultado das análises e da avaliação dos médicos que nos estão a dar suporte”, afirmou César Brito, acrescentando que “hoje [sexta-feira] de manhã”, Luís Sottomaior Braga, “voltou a ter uma crise de hipoglicemia”.
“Se estes episódios se tornarem recorrentes não pode estar a sobreviver à custa de glicose injectável. Estas crises indicam que o corpo não está a conseguir produzir glicose para aguentar este embate e isso é muito perigoso”, explicou César Brito.
“NÃO PARAMOS”
Na noite de quinta-feira, mais de uma centena de professores participaram numa manifestação de apoio a Luís Sottomaior Braga.
O docente, que na tarde de quinta-feira recebeu assistência médica por ter sofrido uma crise de hipoglicemia, saiu da autocaravana onde está a realizar o protesto, instalada junto à escola secundária de Santa Maria Maior, em Viana do Castelo, para agradecer aos colegas, dirigindo-lhes algumas palavras.
Luís Sottomaior Braga recebeu aplausos e palavras de incentivo dos professores que empunhavam um cartaz onde se lia: “Sr Ministro, trate bem os que ainda cá estão”.
Em coro, entoaram “Não paramos” e “Escola Unida jamais será vencida” e cantaram o hino nacional.
Em declarações aos jornalistas, sentado numa cadeira na tenda de campanha, montada ao lado da autocaravana e de cravo vermelho ao peito, o docente, de 51 anos, disse aos jornalistas que está “bem de saúde”, apesar de sentir “algum cansaço”, garantindo que não está a fazer a greve de fome para “correr risco excessivo”.
“Há um objectivo de marcar uma posição, mas há cuidado com a preservação da vida”, frisou.
Questionado sobre se já teve resposta ao apelo que fez na segunda-feira ao Presidente da República para não promulgar a lei dos concursos, o docente afirmou que “não está à espera de um telefonema”, mas que Marcelo Rebelo de Sousa “actue politicamente” para travar o que chamou de “acto extremamente violento” para os professores por representar “uma situação bastante desgraçada”.
MUITO APOIO
“O senhor Presidente até pode ignorar-me que eu ficarei satisfeito se ele der um sinal muito claro [sobre] se, em relação ao diploma dos concursos, tem uma posição política clara”, destacou.
Referiu ainda que não se “sente sozinho”, que tem recebido inúmeras “palavras de apreço e apoio” e que esta “é uma luta dos professores que têm de continuar mobilizados para, por uma vez, a educação ser olhada como um problema de futuro, um problema estrutural do país”.
Docente há 28 anos, Luís Sottomaior Braga declarou que Marcelo Rebelo de Sousa “tem legitimidade política, constitucional para tomar uma medida em relação ao problema educativo”.
Questionado se a demissão do ministro da Educação seria uma solução para os problemas dos professores, Luís Sottomaior Braga respondeu: “Não me parece que seja uma má solução, porque o que se tem passado, nos últimos tempos, não indica que esteja a fazer um grande trabalho, mas se depois continuar a mesma visão política da educação, que já arrasta em alguns assuntos há muitas décadas não vamos resolver absolutamente nada”.