O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, alertou esta segunda-feira que o anti-semitismo permanece vivo devido às “mentiras e ódio que tornaram possível o genocídio nazi”, apesar dos 80 anos do fim do Holocausto.
Perante a Assembleia-Geral da ONU, onde assinalou o Dia Internacional da Memória do Holocausto, Guterres frisou que o mundo actual “está fracturado e perigoso” e considerou um dos exemplos mais claros e preocupantes a “negação do Holocausto”.
“Oitenta anos após o fim do Holocausto, o anti-semitismo ainda está connosco — alimentado pelas mesmas mentiras e ódio que tornaram possível o genocídio nazi. E está a aumentar. A discriminação é abundante”, afirmou o líder da ONU.
“O ódio está a ser despertado em todo o mundo. Um dos exemplos mais claros e preocupantes é o cancro crescente da negação do Holocausto. Factos históricos indiscutíveis estão a ser distorcidos, diminuídos e descartados. Esforços estão a ser feitos para reformular e reabilitar os nazis e seus colaboradores”, alertou.
António Guterres defendeu que esses “ultrajes sejam enfrentados” através da promoção da educação, do combate às mentiras e através da verdade.
“Devemos condenar o anti-semitismo onde e quando ele aparecer — assim como devemos condenar todas as formas de racismo, preconceito e intolerância religiosa que vemos hoje proliferar. Porque sabemos que esses males murcham a nossa moralidade, corroem a nossa compaixão e procuram cegar-nos para o sofrimento — abrindo a porta para atrocidades”, advertiu Guterres.
Na cerimónia, que decorreu na sede da ONU, em Nova Iorque, e que contou com sobreviventes do Holocausto e suas famílias, António Guterres aproveitou para recordar os ataques de 7 de Outubro de 2023, perpetrados pelo grupo islamita palestiniano Hamas contra Israel, e destacou o acordo de cessar-fogo e de libertação de reféns alcançado recentemente.
“O acordo oferece esperança, assim como o alívio muito necessário. As Nações Unidas farão o máximo para garantir que isso leve à libertação de todos os reféns e a um cessar-fogo permanente em Gaza”, reforçou o líder das Nações Unidas, que desde o início da guerra vem sendo duramente criticado pelos israelitas pela ampla defesa dos direitos dos palestinianos.
Nesta cerimónia anual do Dia Internacional da Memória do Holocausto, o ex-primeiro-ministro português recordou as vítimas, sobreviventes e as suas famílias e renovou a “determinação de nunca esquecer as atrocidades que tanto ultrajaram a consciência da humanidade” e que se manifestaram através de marginalização, discriminação, expulsões e assassinatos.
“A coragem dos sobreviventes em contar suas histórias desempenhou um papel enorme. Somos profundamente gratos a todos eles. Mas a responsabilidade pertence a cada um de nós. A lembrança não é apenas um acto moral. A lembrança é uma chamada à acção. Permitir que o Holocausto desapareça da memória desonraria o passado e trairia o futuro”, sublinhou.
Proclamado oficialmente em Novembro de 2005, o Dia Internacional da Memória das Vítimas do Holocausto comemora a libertação pelas tropas soviéticas, em 1945, do campo de concentração e extermínio nazi alemão de Auschwitz-Birkenau.
Auschwitz-Birkenau tornou-se o símbolo do genocídio perpetrado pela Alemanha nazi contra seis milhões de judeus europeus, um milhão dos quais morreram no campo entre 1940 e 1945, bem como mais de 100.000 não judeus.
Com MadreMedia