Uma mulher é assassinada no mundo a cada dez minutos pelo parceiro ou familiar, lembrou este sábado o secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, frisando que “horrores ancestrais, como violência, discriminação e desigualdade económica, ainda assolam as sociedades”.
Num discurso perante a Assembleia-Geral da ONU por ocasião do Dia Internacional da Mulher, que este ano é comemorado a nível institucional nesta sexta-feira, Guterres assinalou que as conquistas arduamente conquistadas ao longo das últimas décadas “continuam frágeis e longe de serem suficientes”.
O ex-primeiro-ministro português também enfatizou que, a séculos de discriminação estão a adicionar-se novas ameaças, como as digitais, já que os discursos que se espalham pela internet frequentemente servem para “silenciar as vozes das mulheres, agravar os preconceitos (de género) e exacerbar o assédio”.
“E a violência ‘online’ está a transformar-se em violência na vida real”, alertou o secretário-geral, que lamentou como que “os corpos das mulheres se tenham tornado em campos de batalha políticos”. Num olhar para os conflitos ao redor do mundo, o chefe das das Nações Unidas sublinhou que 612 milhões de mulheres e raparigas vivem sob a sombra de conflitos armados, onde os seus direitos são muitas vezes considerados dispensáveis.
Além disso, menos de dois terços das mulheres em todo o mundo integram o mercado de trabalho – e as que participam ganham muito menos do que os homens.
“A este ritmo, erradicar a pobreza extrema entre mulheres e raparigas levaria 130 anos”, observou. Mas, num sinal de optimismo, Guterres recordou que tanto a ONU como a União Europeia desenvolveram abordagens globais que estão a dar resultados concretos: retirar 21 milhões de mulheres e meninas do ciclo de violência de género, duplicar os casos de condenações por estes crimes ou estabilizar a educação de um milhão de raparigas que não terão de abandonar a escola.
ESTRATÉGIA AMBICIOSA
Na sua opinião, essas conquistas demonstram que, se houver uma estratégia ambiciosa, resultados concretos serão alcançados. “Nunca podemos aceitar um mundo onde meninas e mulheres vivam com medo, onde a sua segurança seja um privilégio em vez de um direito inegociável”, enfatizou.
O secretário-geral admitiu orgulho pelo facto de a ONU ter alcançado a paridade de género entre as lideranças seniores e os coordenadores residentes a nível mundial desde 2020. “E pela primeira vez na história da nossa organização, também alcançámos a paridade nas categorias profissionais internacionais”, celebrou.
Contudo, a ONU debate-se com o facto de nunca ter tido uma secretária-geral, cenário que pode vir a mudar quando Guterres terminar o seu mandato, em 2026.
“Quando as mulheres participam nas negociações, a paz dura mais tempo. Quando as raparigas podem ir à escola, gerações inteiras saem da pobreza. Quando as mulheres usufruem de oportunidades iguais de emprego, as economias fortalecem-se. E com paridade na liderança política, as decisões são mais justas, as políticas são mais precisas e as sociedades mais justas. Simplificando: quando as mulheres e as raparigas crescem, todos prosperam”, sublinhou António Guterres.