O Hezbollah confirmou este sábado a morte do seu líder, Hassan Nasrallah, num ataque aéreo israelita, segundo a agência norte-americana AP.
“Hassan Nasrallah juntou-se aos seus companheiros mártires (…) cuja marcha liderou durante quase 30 anos”, anunciou um comunicado do grupo pró-iraniano citado pela agência francesa AFP e pela Al Jazeera.
O Hezbollah não menciona no comunicado as circunstâncias da morte de Nasrallah, de acordo com a agência espanhola EFE.
Horas antes, o porta-voz do exército israelita, tenente-coronel Nadav Shoshani, citado pela agência francesa AFP, anunciara a morte do líder do movimento islamita armado libanês Hezbollah, Hassan Nasrallah, num ataque na sexta-feira à sede da organização em Beirute.
Inimigo declarado de Israel o Hezbollah não tinha anunciado oficialmente o destino de Nasrallah, , mais de 15 horas após o devastador ataque israelita ao seu reduto nos subúrbios do sul de Beirute. Mas uma fonte próxima do Hezbollah admitiu à AFP que a organização “perdeu o contacto” com Nasrallah desde sexta-feira à noite.
Os militares israelitas afirmaram ter efectuado um ataque aéreo preciso na sexta-feira enquanto a direcção do Hezbollah se reunia no seu quartel-general em Dahiyeh, a sul de Beirute, segundo a agência norte-americana AP. Além de Nasrallah, morreram outros comandantes do Hezbollah, segundo os militares israelitas.
Num comunicado citado pelo jornal libanês L’Orient du Jour, o exército israelita disse que “durante os 32 anos em que esteve ao leme” do partido xiita, Nasrallah “foi responsável pelo assassinato de inúmeros cidadãos e soldados israelitas”. Também foi responsável pelo planeamento de ataques contra Israel “e em todo o mundo”, acrescentou.
O chefe do Estado-Maior do exército israelita, general Herzi Halevi, prometeu atacar quem ameaçar Israel, pouco após o exército ter anunciado a morte de Nasrallah.
“Não esgotámos todos os meios à nossa disposição. A mensagem é simples: quem quer que ameace os cidadãos de Israel, nós saberemos como atingi-lo”, declarou o general Halevi num comunicado citado pela AFP.
Apesar dos golpes desferidos por Israel, o movimento libanês anunciou este sábado que tinha disparado foguetes contra um kibutz e alvos militares no norte de Israel em resposta aos “ataques bárbaros do inimigo israelita”.
QUEM FOI HASSAN NASRALLAH?
Hassan Nasrallah, um religioso de 64 anos, é objecto de um verdadeiro culto de personalidade no Líbano, onde era considerado o homem mais poderoso. Durante anos, viveu escondido e raramente apareceu em público.
Estratega astuto, Nasrallah transformou o Hezbollah num arqui-inimigo de Israel, cimentando alianças com os líderes religiosos xiitas do Irão e com grupos militantes palestinianos como o Hamas.
Idolatrado pelos seus seguidores xiitas libaneses e respeitado por milhões de pessoas em todo o mundo árabe e islâmico, Nasrallah tem o título de sayyid, um título honorífico que significa que a linhagem do clérigo xiita remonta ao Profeta Maomé, o fundador do Islão.
Orador inflamado, visto como um extremista nos Estados Unidos e em grande parte do Ocidente, é também considerado um pragmático em comparação com os militantes que dominaram o Hezbollah após a sua fundação em 1982, durante a guerra civil do Líbano.
Apesar do poder que detém, Nasrallah tem vivido em grande parte na clandestinidade por receio de um assassinato israelita.
Nascido em 1960 no seio de uma família xiita pobre do subúrbio de Sharshabouk, no norte de Beirute, Nasrallah foi mais tarde deslocado para o sul do Líbano. Estudou teologia e aderiu ao movimento Amal, uma organização política e paramilitar xiita, antes de se tornar um dos fundadores do Hezbollah.
O Hezbollah foi formado por membros da Guarda Revolucionária Iraniana que chegaram ao Líbano no verão de 1982 para combater as forças invasoras israelitas. Foi o primeiro grupo que o Irão apoiou e utilizou como forma de exportar a sua marca de islamismo político.
Nasrallah construiu uma base de poder à medida que o Hezbollah se tornou parte de um grupo de facções e governos apoiados pelo Irão, conhecido como o Eixo da Resistência.
Dois dias depois de o seu líder, Sayyed Abbas Musawi, de 39 anos, ter sido morto num ataque de um helicóptero israelita no sul do Líbano, o Hezbollah escolheu Nasrallah como seu secretário-geral em Fevereiro de 1992.
Cinco anos mais tarde, os Estados Unidos designaram o Hezbollah como organização terrorista.
Sob o comando de Nasrallah, o Hezbollah foi responsável pela guerra de desgaste que levou à retirada das tropas israelitas do sul do Líbano em 2000, após uma ocupação de 18 anos. O filho mais velho de Nasrallah, Hadi, foi morto em 1997, em combate contra as forças israelitas.
Após a retirada de Israel do sul do Líbano, em 2000, Nasrallah ganhou um estatuto icónico no Líbano e no mundo árabe. As suas mensagens eram transmitidas pela própria rádio e pela estação de televisão por satélite do Hezbollah.
Esse estatuto foi ainda mais cimentado quando, em 2006, o Hezbollah lutou contra Israel até um impasse durante a guerra de 34 dias.
Quando a guerra civil síria eclodiu em 2011, os combatentes do Hezbollah entraram em acção, apoiando as forças de Assad – apesar de a popularidade do Hezbollah ter caído a pique quando o mundo árabe ostracizou Assad.
HEZBOLLAH JUNTA-SE AO HAMAS
Um dia depois do início da guerra entre Israel e o Hamas, em 7 de Outubro, o Hezbollah começou a atacar os postos militares israelitas ao longo da fronteira, chamando-lhe “frente de apoio” para Gaza.
Em discursos proferidos ao longo do conflito, Nasrallah argumentou que os ataques transfronteiriços do Hezbollah tinham afastado as forças israelitas que, de outro modo, estariam concentradas no Hamas em Gaza e insistiu que o Hezbollah não pararia os seus ataques contra Israel enquanto não fosse alcançado um cessar-fogo em Gaza.
Nasrallah tem mantido um tom desafiador, mesmo quando as tensões aumentaram drasticamente nas últimas semanas, com Israel a anunciar uma nova fase do conflito, destinada a afastar o Hezbollah da fronteira e a permitir o regresso de milhares de deslocados do norte de Israel.
Com TSF e Agências