O Hospital de Braga assegurou esta segunda-feira que está a “envidar todos os esforços” para preencher as escalas do Serviço de Urgência (SU) de Ginecologia e Obstetrícia, não confirmando um novo encerramento temporário desta unidade, entre quarta e sexta-feira. Já o presidente da autarquia antevê que a falta de médicos se alastre a outros serviços.
“O Hospital de Braga não confirma o encerramento do SU de Ginecologia e Obstetrícia nos próximos dias 15, 16 e 17 de Junho. Neste momento, as escalas ainda não estão fechadas, estando o Conselho de Administração a envidar todos os esforços para minimizar os impactos da falta de disponibilidades”, refere o hospital, em resposta escrita enviada à agência Lusa.
Esta segunda-feira, após a reunião do executivo da Câmara de Braga, o presidente do município disse aos jornalistas que “tinha a indicação” de que este SU iria voltar a encerrar temporariamente, entre quarta-feira e sexta-feira, mas salientou que também “tinha recebido a indicação” da ministra da Saúde, Marta Temido, de que estava a tentar resolver a situação.
“Confirmaram-me essa indicação [fecho do SU nos três dias]. Embora também tenha recebido a indicação da senhora ministra, que me ligou logo no sábado, a dizer que iria ter algumas reuniões no início da semana e que esperava poder chegar a um entendimento que pudesse acorrer, pelo menos, no imediato, a este tipo de situações, que não se passam, infelizmente, em Braga, mas que se passam por todo o país”, declarou Ricardo Rio.
O Conselho de Administração do Hospital de Braga confirmou, no sábado, que as urgências de Ginecologia e Obstetrícia iriam estar encerradas no domingo e durante 24 horas, devido à “impossibilidade de completar escalas”, após o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) denunciar a falta destes profissionais.
Em comunicado divulgado no sábado, o SIM defendia que este é o “lamentável resultado da incapacidade do Governo em captar e fixar médicos no SNS [Serviço Nacional de Saúde], oferecendo-lhes condições de trabalho e remuneratórias adequadas ao seu nível de responsabilidade””.
O presidente da Câmara de Braga antevê que a falta de médicos se alastre a outros serviços.
SUBVALORIZAÇÃO DOS PROFISSIONAIS
“É uma questão de bom senso e de racionalidade. Se uma determinada especialidade começa a obter condições negociais mais favoráveis por força de uma reivindicação como esta, os outros profissionais das outras áreas, a curto prazo, podem vir dizer que se sentem discriminados face a essas mesmas condições”, sublinhou Ricardo Rio.
Para o autarca, “a exiguidade de recursos não é exclusiva da área da obstetrícia, é uma questão que se está a passar em toda a classe médica, é também algo que tem a ver com uma questão ainda mais estrutural, do que as questões de gestão, que é a insuficiência de formação de médicos, face àquilo que são as necessidades do país”.
“Infelizmente, também ao longo dos últimos anos não tem havido um salto muito significativo do ponto de vista da quantidade de novos profissionais que são disponibilizados às unidades de saúde. E tudo isso somado, obviamente que me parece que esta situação pode, a curto prazo, alastrar para outras especialidades, em Braga e no país”, vaticinou o presidente do município.
Se o hospital fosse gerido por uma Parceria Público Privada (PPP), como foi até 2019, o autarca entende que esse facto “não impediria, mas diminuiria as consequências” destes constrangimentos causados pela falta de médicos.
“E, sobretudo, dotaria o hospital e a administração do hospital de mecanismos mais ágeis de resposta a situações pontuais. Por trás das situações pontuais, há questões estruturais que a parceria [PPP] não conseguiria resolver”, afirmou Ricardo Rio.
Segundo o presidente da Câmara de Braga, “ao longo dos últimos anos, houve um subinvestimento claro no SNS, há uma subvalorização dos seus profissionais, o SNS não consegue competir com o sector privado, nomeadamente em termos de condições remuneratórias de muitos profissionais”.
“O que leva ao abandono do sector público para se dedicarem exclusivamente ao sector privado, e essa é uma situação que tem de ser resolvida, não por nenhuma equipa de gestão de um hospital, mas seguramente pelo ministério do Saúde”, referiu Ricardo Rio.