Ministério Público (MP) dá conta em comunicado que a investigação ao ex-empresário de futebol José Veiga e Paulo Santana Lopes, irmão do ex- primeiro-ministro Pedro Santana Lopes, detidos na operação ‘Rota do Atlântico, atravessou três continentes: Europa, África e América. Uma empresa de construção civil de Vila Verde esteve também na mira dos investigadores, que passaram ainda por Braga, Fátima e Lisboa.
Ao que apurou o PressMinho, a PJ realizou apenas acções que visam estabelecer as relações de negócio entre a empresa vilaverdense e os dois sócios envolvidos. “Nada de especial, apenas como há uma relação de negócios é normal que tenham feito as referidas diligências”, avança fonte ligada ao processo, em declarações ao jornal ‘O Vilaverdense. E tranquiliza: «tudo normal, tudo tranquilo!».
Quer Veiga e Paulo Santana Lopes, e ainda a advogada Maria Barbosa, estão indiciados pela prática dos crimes de tráfico de influência e de participação económica em negócio na compra e venda de acções de uma instituição financeira estrangeira, acções, essas, detidas por instituição de crédito nacional.
O MP acrescenta que foram efectuadas buscar a três escritórios de advogados, em casas sedes de empresas e um banco, o Novo Banco, segundo o Diário Económico.
Por seu turno, a PJ adianta que os detidos celebravam contratos de fornecimentos de bens e serviços – entre os quais obras públicas, construção civil e venda de combustível a várias entidades provadas e estatais do Congo. Os lucros destes negócios eram “utilizados na aquisição de imóveis, veículos de gama alta, sociedades não residentes e outros negócios, utilizando para o efeito pessoas com conhecimentos especiais e colocadas em lugares privilegiados, ocultando a origem do dinheiro e integrando-o na actividade económica licita”.
Foram apreendidos vários imóveis como veículos automóveis de gama alta e saldos bancários. Os detidos vão ser sujeitos a primeiro interrogatório judicial, para eventual aplicação das medidas de coação tidas por adequadas. Mais uma vez, será o juiz Carlos Alexandre a ouvir os detidos. E o processo está em segredo de justiça.
Segundo o Observador, a proposta de compra do Banco Internacional de Cabo Verde, do Grupo Espírito Santo, feita por Veiga estará também debaixo de olho da Polícia Judiciária. A informação foi avançada há duas semanas pelo Diário Económico que dava conta do interesse do empresário, que mantinha negócios em África – onde se refugiou como consultor, gestor e empresário, depois da saída da estrutura directiva do SL Benfica, em 2007.
Segundo o Diário de Notícias e o Diário Económico, na proposta de compra, Veiga representa um grupo luso-africano (sobretudo com interesses do Congo) que quer comprar o Banco Internacional de Cabo Verde (BICV), ativo do Novo Banco, avaliado em 14 milhões de euros.
Já há dois anos Veiga tinha mostrado interesse nos negócios da banca, ao negociar com o Grupo Espírito Santo uma participação na holding Es Control, também num consórcio com investidores africanos. Noticiou o Económico que o negócio não se concretizou, mas envolvia 150 milhões de euros que poderiam ter ajudado o GES então em dificuldades.
Ainda segundo o Diário Económico, na sequência da operação da Polícia Judiciária coordenada pelo MP, foram apreendidos 11 milhões de euros – o valor já dado como sinal. Aliás, o empresário não podia sequer entrar neste negócio uma vez que surge na lista de devedores ao Fisco.
Veiga mudou-se para África em 2009 e tornou-se consultor na área do futebol para a África e América do Sul. A partir de 2011 passou a ter residência fixa no Congo e a mudar os seus interesses para outras áreas, da banca à saúde, do ambiente ao imobiliário.
Paulo Santana Lopes foi administrador da Tetris, uma sociedade imobiliária comprada pela empresa Marquês de Pombal por indicação da Sociedade Lusa de Negócios (SLN), e o seu nome foi mencionado durante a comissão de inquérito ao BPN. Em 2010, foi notícia novamente por ter alegadamente recebido um cheque de Manuel Godinho, o empresário de Ovar que foi constituído arguido no âmbito do processo Face Oculta.
FG (CP1200) Com Observador, Diário Económico e Diário de Notícias