Patrícia Fernandes, investigadora do Centro de Ética, Política e Sociedade (CEPS) da Universidade do Minho, venceu o Prémio Res Publica 2021, com o ensaio ‘Nova Direita no século XXI: identitária, nacionalista e cristã’.
A distinção, no valor de 2500 euros, é e entregue esta quarta-feiraàs 18h30, na sede da Fundação, em Lisboa, e também transmitida no seu facebook.
A Fundação Res Publica galardoa a cada ano um ensaio inédito sobre temas políticos e económico-sociais. O júri desta terceira edição foi composto por Edite Estrela (presidente), Constança Urbano de Sousa, Pedro Bacelar de Vasconcelos, Filipe Nunes e Rui Pena Pires. É a segunda distinção do CEPS na iniciativa; a edição inaugural laureou Roberto Merrill e o seu ensaio sobre o rendimento básico.
Patrícia Fernandes mostrou-se feliz pelo prémio. “Analisei as bases ideológicas da Nova Direita contemporânea e as ligações à Nova Direita francesa surgida nos anos 1970; por outro lado, mostrei as razões que levam os partidos e movimentos associados à Nova-Nova Direita a cativarem um número crescente de eleitores. A junção destas duas perspectivas é pouco trabalhada em Portugal e o júri decidiu reconhecer-me o mérito”, resume.
SILENCIAR AS MERGENS?
Os seus estudos nos últimos anos mostram como os discursos políticos hegemónicos tendem a silenciar os discursos que estão nas margens. “Mas esse silenciamento acaba por fracassar com o tempo, pois os projectos políticos têm um prazo-limite de eficácia e, além disso, o silenciamento reforça o sentimento de revolta de quem é silenciado”, explica.
Para a investigadora, o consenso que nasceu com o final da II Guerra Mundial tendeu a silenciar uma margem da população menos globalista, mais nacionalista, mais religiosa e mais identitária, mas os efeitos económicos e sociais desse consenso político têm vindo a engrossar as margens.
“As elites políticas estão a optar por intensificar o silenciamento, mas hoje isso é infrutífero, já que nas redes sociais e nas plataformas mais obscuras da internet as margens reforçam o sentimento de revolta e, também, o de pertença a um grupo, sentem que não estão sozinhas”, afirma a especialista.
Acrescenta que isso foi evidente nos EUA com a eleição e o mandato de Donald Trump, e nas recentes eleições em França, com o crescimento sustentado dos “enraizados”, como define o autor britânico David Goodhart.
A parte final do ensaio de Patrícia Fernandes debruça-se sobre o contexto português – tal como em muitos casos, o fenómeno está a chegar com atraso, mas o crescimento e a afirmação do Chega como terceira força política “demonstram a mesma dinâmica”. “Será que as nossas elites políticas vão reconhecer a legitimidade democrática dessas vozes ou, então, vão repetir a tentativa de silenciamento de outros países? É essa a análise que vou continuar a desenvolver”, sublinha.
BIOGRAFIA
Patrícia Fernandes nasceu em 1981 e vive em Famalicão. É licenciada em Direito pela Universidade do Porto e em Filosofia pela UMinho, na qual também se doutorou em Filosofia Social e Política e é professora do Departamento de Ciência Política da Escola de Economia e Gestão.
Leccionou ainda na Universidade da Beira Interior. A sua investigação parte da teoria política para incidir, em particular, nas teorias democráticas. É igualmente cronista e comentadora no jornal e rádio Observador.