Um estudo de dois psiquiatras do Hospital de Braga, publicado na revista The Lancet Psychiatry, alerta para o facto de as raspadinhas estarem a alimentar comportamentos de jogo compulsivo. Cada vez mais pessoas procuraram tratamento médico para o vício nas raspadinhas.
No estudo ‘Raspando à superfície de uma ameaça negligenciada: o enorme crescimento da lotaria instantânea em Portugal’, em tradução literal, os investigadores Pedro Morgado e Daniela Vilaverde afirmam que a raspadinha está a tornar-se num jogo patológico, ou seja, num comportamento persistente que acontece quando a pessoa não consegue parar de jogar apesar das perdas.
A raspadinha – na qual, em média, cada português gasta 160 euros por ano – está a aumentar o número de casos de jogo patológico que chegam aos consultórios médicos.
Em declarações ao Público, Pedro Morgado, psiquiatra e também investigador da Escola de Medicina da Universidade do Minho, explica que esta lotaria instantânea tem “potencial para incentivar o jogo excessivo”. Segundo o investigador, há distorção cognitiva que levam os jogadores a “acreditar que a probabilidade de ganhar é muito superior à real” e que “dominam melhor do que os outros os detalhes do jogo”.
“Nos jogos de casino, a própria pessoa pode pedir a auto-exclusão, na raspadinha isso não é possível”, frisa.
Em Portugal, acrescenta, “as vendas das raspadinhas têm subido de forma constante desde 2010. Em 2018, chegaram aos 1594 milhões, o que é aproximadamente 160 euros gastos por pessoa. O número é muito mais alto do que nos países vizinhos”. Em Espanha, por exemplo, cada cidadão gastou cerca de 14 euros por ano em raspadinhas.
Pedro Morgado lamenta que não tenha sido feito qualquer estudo epidemiológico para ajudar diagnosticar o problema, admitindo que o retorno do jogo para os cofres do Estado pode ajudar a explicar a “ausência de políticas efectivas” para travar o vício da raspadinha.