“Visitar um campo de refugiados é perturbador. Em cada um deles via os meus filhos, a minha mulher, a minha família! Foi um ensinamento. Ensinou-me a dar valor à paz, a perceber que, de repente, tudo muda. Falei com vários refugiados que ainda há pouco tempo tinham tudo, hoje não têm nada. Há as crianças que viram os pais e mais familiares morrerem…”.
É com estas palavras emocionadas que José Manuel Fernandes retrata o drama das famílias vivem no campos de refugiados na Turquia.
O eurodeputado social-democrata, integrado numa delegação da comissão dos orçamentos do Parlamento Europeu esteve esta semana nos campos de refugiados da Turquia, onde sentiu a dimensão do drama humano e civilizacional provocado pela guerra na Síria e na iminência de se agravar.
“A gravidade da situação implica que se actue com rapidez. Estamos a agir sobre as consequências de uma guerra. É uma obrigação que convoca toda a humanidade. Mas temos de ir à origem e causa do problema. Há que acabar com a guerra na Síria! Essa é a única solução”, aponta o Eurodeputado José Manuel Fernandes, no balanço da visita.
Para o social-democrata e coordenador do PPE na comissão dos orçamentos, “a emergência humanitária agrava-se todos os dias exige e exige urgência na solução do problema”, para além da necessidade de, em simultâneo, se garantir “transparência e que os recursos financeiros chegam aos refugiados”.
A Turquia tem mais de 900 quilómetros de fronteira com a Síria, estando obviamente exposta ao fluxo de refugiados sírios. A Turquia conta já com mais de 2,6 milhões de refugiados sírios. Face aos recentes bombardeamentos russos, o drama e o número de refugiados na Turquia tem tendência a aumentar. Neste momento, estão mais de 50 mil refugiados sírios à porta da Turquia, à espera de entrar.
“É provável que tudo se precipite: há mais de 11 milhões de pessoas na Síria a viver na penúria, fartos de fugir à guerra e predispostos a tudo fazer para saírem do país”, alerta, José Manuel Fernandes, relator do orçamento da UE para 2016, sublinhando a preocupação com a dimensão desta crise humanitária.
Apenas 10% dos refugiados estão em campos de acolhimento e mais de metade dos refugiados são jovens. Os restantes 90% estão em comunidades locais, em que em muitas delas estão em maior número do que a população local. Esta situação cria problemas em termos de infra-estruturas e de pobreza.
A Turquia afirma que já investiu cerca de 9 mil milhões de euros desde o início do conflito para ajudar os refugiados e que recebeu pouco mais de 500 milhões de euros. A União Europeia acordou uma ajuda de 3.000 milhões para 2016 e 2017.
José Manuel Fernandes constatou o esforço da Turquia e o trabalho notável que as instituições humanitárias e ONG fazem no terreno.
Na região de Gaziantep, o eurodeputado visitou o campo de refugiados de Osmaniye, em que o governador e as instituições locais tratam estes refugiados como os “convidados”. Afirmam que foram enviados por Deus.
No campo de Osmaniye, estão 9.500 refugiados distribuídos por duas mil tendas. Há água, 15 pequenas lojas, médico, farmácia, escola, espaço para lazer. Cada refugiado tem mensalmente cerca de 16 euros para alimentação que podem adquirir no supermercado do campo e 11 euros para outras despesas, recebendo duas cartas bancárias para esse objectivo (85 libras turcas).
FG (CP1200)
Testemunho integral de José Manuel Fernandes
“Estive numa dessas tendas com uma família. Um casal jovem com uma filha convidou-me a entrar. Ele veterinário, ela professora. Insistiram para que entrasse. Descalcei-me. Ofereceram-me café. Estão ali desde 2012, mas têm esperança em voltar a casa. Aliás, querem todos voltar para a Síria, logo que haja condições mínimas de segurança. Não percebem a razão da guerra e a postura dos vários “actores”. Agradecem-nos a ajuda.
Nas escolas para crianças sírias, só encontrei mulheres a leccionar. Desde 2012, já nasceram 907 crianças e morreram 146 pessoas neste campo. Na Turquia, desde o início, do conflito já nasceram mais de 150 mil crianças sírias.”
“Visitar um campo de refugiados é perturbador. Em cada um deles via os meus filhos, a minha mulher, a minha família! Foi um ensinamento. Ensinou-me a dar valor à paz, a perceber que, de repente, tudo muda. Falei com vários refugiados que ainda há pouco tempo tinham tudo, hoje não têm nada. Há as crianças que viram os pais e mais familiares morrerem… Enfim… Estamos a agir sobre as consequências de uma guerra. É uma obrigação que convoca toda a humanidade. Mas temos de ir à origem e causa do problema. Há que acabar com a guerra na Síria!”.