Portugal vive um sentimento de esperança, sonho e utopia da vitória dos seus atletas que irão participar nos Jogos Olímpicos. A afirmação é de Camilo Cunha, da Universidade do Minho, no novo livro ‘Os Jogos Olímpicos sob o signo da utopia’.
A obra tem edição do Comité Olímpico de Portugal (COP) e é oferecida às delegações nacionais presentes no Rio’16. Assinala também os 120 anos dos I Jogos Olímpicos da era moderna e os 500 anos da publicação de “Utopia”, de Thomas More. Portugal entra esta quinta-feira na competição, com 92 atletas em 16 modalidades.
“Temos sempre uma esperança positiva, tentando anular quase um ‘destino bíblico’ que parece acompanhar e que temos aos poucos mitigado, como a recente vitória no Europeu de Futebol e as medalhas no Europeu de Atletismo”, diz o professor da UMinho, para continuar: “No entanto, reconheçamos que este país é pequeno, que boa parte do povo vive para sobreviver (não pode dedicar-se ao desporto enquanto lazer e competição) e que a nossa cultura desportiva está a despontar, sendo necessária a difusão da prática física, a melhoria das infraestruturas e maior apoio institucional e educativo”.
Portugal é 65º no ranking dos países mais medalhados nos Jogos Olímpicos, com 23 medalhas, sendo quatro delas de ouro (no atletismo). Dos 205 comités olímpicos nacionais, 80 nunca subiram ao pódio.
Camilo Cunha vinca que os portugueses tendem a assumir favoritismo nas suas participações em grandes eventos desportivos: “Há um otimismo e desânimo radicais, parecendo faltar um meio-termo. A nossa cultura e mentalidade vivem ‘sempre’ nos extremos, legitimadas no discurso oficial, mediático e popular”. O livro, que lança em coautoria com Rui Garcia, tem o prefácio do presidente do COP, José Manuel Constantino, e dos reitores das universidades do Minho e Porto, respetivamente António M. Cunha e Sebastião Feyo de Azevedo.
A obra encara os Jogos Olímpicos como a reunião dos povos à procura do ideal de paz, justiça, ecologia e do ser humano como dignidade absoluta. Elogia ainda a técnica e a concretização: “Quando Usain Bolt faz 9.58 segundos nos 100 metros, fá-lo na sua individualidade, estende à sua comunidade (Jamaica) e projeta para uma comunidade maior: ao ser mais rápido, toda a humanidade é mais rápida”, frisa o autor.
As Olimpíadas são em si “a metáfora da perfeição, da procura da utopia, do lugar de felicidade, do provir”, anui. Porém, por vezes aludem à distopia e ao caminho errado, como o recurso ao doping para maximizar resultados. “É um meio fictício de chegar à felicidade e, num momento final, gera angústia e remorso, como sucedeu ao ciclista Lance Armstrong”, alude Camilo Cunha. “A ‘chegada aos céus’ num percurso artificial faz com que não fique lá e tenha a penalização (mito de Sísifo) de retornar à realidade, que é dura e deverá ser ética”, acentua. Nesse sentido, os Jogos são um campo da experimentação ética – participar dando o máximo, mas com a capacidade natural de cada um.
Luís Moreira (CP 8078)