A discussão sobre as alterações climáticas centra-se na energia, nos gases com efeito de estufa, mas o grande problema e maior impacto é no sistema hídrico do mundo, alerta o presidente do Conselho Mundial da Água.
“O impacto das alterações climáticas é no sistema hídrico, é na seca mais longa, nas cheias mais intensas, e maior frequência desses fenómenos. A questão das alterações climáticas está directamente ligada à água”, diz Benedito Braga, em entrevista à Lusa.
Em Évora para participar num Encontro Nacional de Entidades Gestoras de Água e Saneamento (ENEG 2017), que junta centenas de especialistas do sector, Benedito Braga garante que as alterações climáticas vão influenciar directamente a gestão da água no mundo.
“Todos os países são afectados hoje, há problemas em todo o mundo, tivemos seca na Califórnia, tivemos seca na Turquia, no Brasil, aqui em Portugal agora. Acontecem em todos os locais”, diz Benedito Braga, explicando que a grande preocupação do Conselho é a segurança hídrica global, começando pela disponibilidade de água para consumo humano, mas também para a produção de alimentos e para a produção de energia, porque “todas as formas de energia dependem da água”.
E o aumento dessa segurança é o objectivo do 8.º Fórum Mundial da Água, que se realiza em Brasília entre 18 e 23 de Março do próximo ano e para o qual já confirmaram a presença oito chefes de Estado. O Fórum será o maior evento internacional sobre a água do próximo ano e segundo os organizadores “o maior encontro de sustentabilidade da ultima década”.
O encontro mundial do Brasil será, adianta, “uma oportunidade” para os políticos mobilizarem mais meios para que os orçamentos, sejam de governo sejam regionais ou locais, tenham cada vez mais recursos para aumentar a segurança hídrica.
Questionado se as alterações climáticas dominarão o Fórum de Brasília, Benedito Braga admite que terão um “grande papel” mas acrescenta: “Na verdade a variabilidade natural do clima já é suficiente para estarmos preocupados com a água, então quanto mais com essas alterações climáticas”.
Benedito tem de cor a estimativa do Painel Mundial da Água (que junta 12 chefes de Estado na promoção da água no âmbito das Nações Unidas), de 650 mil milhões de dólares (553 mil milhões de euros) por ano até 2030 para aumentar a segurança hídrica mundial. E sabe que o Brasil precisava de cinco mil milhões de euros por ano, durante 20 anos, para a questão da água e saneamento.
Mas mantém o optimismo. As guerras do futuro serão pela água? “Não acredito em guerras por causa da água”.
FG (CP 1200) com Sapo24