A maioria dos estudantes do ensino secundário público não queria voltar às aulas e tem medo de ser contagiada pelo vírus ou de vir a infectar um familiar ou amigo, concluiu um estudo desenvolvido pelo investigador da Universidade do Minho (UMinho) José Precioso, revelado esta segunda-feira pelo jornal Público
Intitulado ‘Conhecimentos, Opiniões e Comportamentos sobre a Pandemia de Covid-19 no Ensino Secundário’, o estudo feito online junto de uma amostra de quase 1.200 estudantes do ‘Secundário’ público, mostra que quase dois terços (59%) “discordam ou discordam totalmente” com o recomeço das aulas presenciais nesta semana.
No mesmo sentido, a maioria (55,7%) dos inquiridos esteve de acordo com a suspensão decidida em Março pelo Governo.
A investigação de José Precioso revela outros indicadores do desconforto dos estudantes do secundário com o regresso à escola. Quando confrontados com a afirmação “Sinto-me inseguro se tiver de ir para a escola”, a maioria (56,3%) indicou “concordar ou concordar totalmente” com a asserção.
Segundo o trabalho da UMinho, os alunos parecem também perceber que a forma de contágio do novo coronavírus acarreta riscos não só para eles próprios, como para quem lhes é próximo. Mais de dois terços (67,2%) sinalizam ter receio de contrair a covid-19, mas esse sentimento aumenta se a questão for a transmissão do vírus a algum familiar ou amigo: 88,3% mostram ter esse medo.
Na amostra, 46,8% dos estudantes não saíram de casa durante a última semana. A quase totalidade (95%) não utilizou transportes públicos. Os resultados ainda mostram que os alunos do ensino secundário têm um grau de conhecimento “razoável” sobre a doença e os seus riscos.
O estuda revela ainda que a maioria dos estudantes não usa luvas descartáveis ou viseira frequentemente. Apenas 24% e 22% dizem fazê-lo quando estão num espaço fechado.
Os estudantes responderam correctamente a uma média de 12,48 das 14 perguntas que lhes eram feitas. Os alunos do 12.º ano têm um nível de conhecimento sobre a matéria superior ao dos colegas do 10.º ano.
ALUNOS COM COMPORTAMENTOS “CORRECTOS”
“De uma forma geral, os alunos e as alunas têm bons conhecimentos no que respeita à natureza da doença, das vias transmissão do vírus, e das formas de prevenção. As suas opiniões e comportamentos são também, de uma forma geral, correctos”, avalia José Precioso ao Público.
O investigador reconhece, no entanto, por ter natureza quantitativa, esta investigação “não dá ideia da forma como realmente os alunos se comportam”.
Por exemplo, se é certo que 67,4% dos estudantes usam sempre máscara cirúrgica em espaços fechados e outros 38,1% referiram utilizar sempre máscara comunitária nessas situações, os resultados não dão a ideia de “como colocam as máscaras, por exemplo”. Essa dimensão vai agora ser avaliada numa nova fase da investigação.
“DEVIAM TER SIDO OUVIDOS”
Os estudantes, defende José Precioso, que coordena esta investigação, “deviam ter sido auscultados” antes da tomada de decisão da retoma das aulas, anunciada pelo Governo no início deste mês.
A opinião dos alunos “é tão importante” como a de directores ou professores, defende.
“Essa foi uma das principais motivações deste estudo, diz este professor do Instituto de Educação da UMinho que desenvolveu o estudo de forma independente nas últimas semanas.
A investigação da universidade minhota teve por base um inquérito feito a 1.170 estudantes matriculados no ensino secundário em escolas públicas. O questionário foi enviado por correio electrónico, acompanhado de um consentimento informado, a todos os directores das escolas secundárias do país.
A maioria dos alunos inquiridos reside na região Norte (52,3%), seguindo-se os residentes na área de Lisboa e vale do Tejo (14,3%).
Fernando Gualtieri (CP 1200)