Mais de 1.800 pessoas e entidades subscreveram até esta terça-feira o documento ‘Pela liberdade de escrever, de publicar, de ler’, lançado há uma semana, a pedir “medidas urgentes para impedir a continuação” de ataques da extrema-direita a autores e bibliotecários.
Cerca de meia centena de entidades, entre associações, editores e livreiros, escreveram uma carta às ministras da Cultura, da Justiça e da Administração Interna manifestando preocupação e indignação por “ataques de elementos da Habeas Corpus e do partido de extrema-direita Ergue-te a escritoras de livros infanto-juvenis e a bibliotecários”.
O documento, publicado no sítio ‘online’ da Associação Acesso Cultura – criada em 2013 para promover o acesso físico, social e intelectual à participação cultural – apela à tomada de medidas de protecção da “leitura tranquila numa biblioteca pública e a apresentações de livros e debates”.
Entre os mais de 1.800 subscritores, encontram-se o ex-ministro da Cultura Luís Filipe Castro Mendes e o ex-secretário de Estado da Cultura Jorge Barreto Xavier, o Pen Clube Português – Associação de Escritores, jornalistas e tradutores, a Fundação José Saramago, a actriz Beatriz Batarda, a autora Ana Markl, e a editora e escritora Maria do Rosário Pedreira.
Centenas de pessoas, das mais variadas áreas de actividade profissional, desde sociólogos, professores, psicólogos, estudantes, juristas, bibliotecários, enfermeiros, produtores culturais, vendedores, bailarinos, tradutores e museólogos assinaram o documento em defesa da “liberdade de escrever, de publicar, de ler”.
Para a Acesso Cultura, “torna-se, assim, claro que os repetidos ataques de elementos da Habeas Corpus e do partido de extrema-direita Ergue-te a escritoras de livros infanto-juvenis e a bibliotecários, no decorrer de leituras e apresentações de livros em bibliotecas públicas, feiras do livro e debates preocupa e indigna muitas mais pessoas e organizações do que as cerca de 20 entidades que subscreveram inicialmente” o documento, conclui, em comunicado divulgado esta terça-feira.
DISCURSO DE ÓDIO
Inicialmente a carta foi assinada por entidades como a Associação Portuguesa de Bibliotecários, Arquivistas, Profissionais da Informação e Documentação (BAD), a Acesso Cultura e a Rede de Livrarias Independentes (RELI). A carta foi igualmente subscrita por editoras como o Grupo LeYa, a Penguin Random House, a Kalandraka, Orfeu Negro e a Planeta Tangerina, assim como por editores, livreiros e outros responsáveis de entidades do sector, em nome individual.
As entidades subscritoras recordam que, “além dos ataques verbais, num intento claro de boicote aos livros, às suas autoras e ao seu público”, os elementos de extrema-direita “têm invadido e desrespeitado a privacidade das autoras”.
“Procurando criar um clima de medo e insegurança, intimidam com berros e insultos, calúnias e mentiras”, acrescentam.
“O discurso de ódio, violento e discriminatório, proferido por estas organizações, é público e conhecido das autoridades. Muitos destes ataques e ameaças são feitos publicamente, gravados pelos próprios e, depois, orgulhosamente partilhados nas redes sociais”, apontam ainda, no documento.
As diferentes entidades afirmam ainda que, como “agentes culturais e agentes educativos”, têm “o dever de defender” a “efectivação dos direitos sociais e culturais” consagrados na Constituição da República Portuguesa, nomeadamente a liberdade de expressão e de pensamento, de se informar e de ser informado, “sem impedimentos nem discriminações”.
Recordam ainda que, de acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, estes direitos “não podem ser impedidos ou limitados por qualquer tipo ou forma de censura”.