Em Abril deste ano, prestes a fazer 91 anos (em 2 de Maio), doente e debilitada, a mulher que ficou conhecida por ‘Celeste dos Cravos’ já não quis falar da Revolução e passou a palavra à neta, para “rectificar lacunas da história” que anos sucessivos de notícias têm perpetuado.
“Há muita gente que ainda pensa que foi uma florista [que deu um cravo a um soldado], mas a minha avó não era florista”, disse na altura a neta à agência Lusa, lembrando que Celeste trabalhava num ‘self-service’ no edifício Franjinhas, na Rua Braamcamp, em Lisboa.
Separada do marido, “por razões que nunca quis contar”, e à época com a mãe e uma filha de 5 anos a seu cargo, a mulher, que “vivia numa casa humilde, sem rádio e sem televisão”, só quando chegou ao emprego, no dia 25 de Abril de 1974, soube que estava a haver uma revolução.
Nesse dia, contou Carolina, o ‘self-service’, que completava um ano, não iria abrir portas e o patrão, “que tinha mandado comprar cravos para oferecer aos clientes e decorar o espaço, disse aos funcionários que levassem um ramo cada um”.
Celeste pegou no seu ramo de cravos – que “eram vermelhos e brancos, que eram poucos, mas também eram brancos” – e decidiu que não iria para casa. Rumou ao Rossio para ver “o que há tanto tempo esperava que acontecesse”.
Foi aí que perguntou a um soldado o que estavam ali a fazer e se precisava de alguma coisa.
O soldado, “de quem nunca soube a identidade, fez sinal de que queria um cigarro” e Celeste, que sofria dos pulmões e nunca fumou, deu-lhe antes um cravo, que o militar colocou no cano da arma e que acabaria por ser o símbolo da revolução.
A ‘Celeste dos Cravos’ foi também a Celeste que em 1988 “perdeu tudo no incêndio do Chiado, ficou sem casa, sem fotografias, sem as recordações de uma vida”.
Em Abril deste ano, Celeste tinha já graves problemas de visão, de audição e de locomoção e vivia em casa da filha e da neta, em Alcobaça.
Com MadreMedia