Nicolau Breyner foi encontrado esta segunda-feira morto em casa, ao que tudo indica por causas naturais. Mundo da televisão, do teatro e do cinema chocado.
O actor, produtor e realizador, tinha 75 anos, estava a filmar actualmente ‘A Impostor’a, a nova telenovela da TVI, e ao longo de mais de 50 anos dedicados à representação, tornou-se um nome incontornável da ficção portuguesa.
Uma das rábulas mais célebres que deixa para a história da televisão portuguesa é inevitavelmente a que fez em conjunto com Herman José no programa “Nicolau no País das Maravilhas”, “Senhor Feliz e Senhor Contente”, em que os dois se perguntavam “como vai este país”.
Na televisão participou em “Vila Faia”, “Nico D’ Obra”, “Eu Show Nico” ou “Gente Fina é Outra Coisa” e mais recentemente nas novelas “O Beijo do Escorpião” ou “Jardins Proibidos”. Actualmente, encontrava-se a rodar a novela “A Impostora”, da TVI.
Criador da novela nacional
É um nome indissociável da génese das telenovelas em Portugal, desde logo com a participação em “Vila Faia”, a primeira telenovela portuguesa, do qual foi também director de actores e co-autor do argumento, mas também em “Origens” e “Palavras Cruzadas”, onde se estreia na realização em televisão.
Sempre pioneiro, apresentou diariamente o concurso na televisão “Jogo de Cartas” entre 1989 e 1992, que se tornou um sucesso graças ao seu carisma e à relação de cumplicidade desenvolvida com Felipa Garnel.
Foi dos poucos actores portugueses cuja carreira no cinema teve quase tanta relevância como a que teve no teatro ou na televisão. Começou a trabalhar no cinema em pequenos papéis nos 60, geralmente em comédias, em que tanto fez de motorista como de motoqueiro de blusão negro, mas foi a partir dos anos 90 que as suas prestações se tornaram mais significativas, em quantidade e qualidade, com as personagens dramáticas em primeiro plano.
Entre os seus papéis mais memoráveis (e teve mais de 50 no cinema) contam-se os do Inspector Malarranha, em “Os Imortais” (2003), de António-Pedro Vasconcelos, e os do avô alentejano de “Atrás das Nuvens” (2007), de Jorge Queiroga, mas também espalhou talento em fitas tão diversas como “O Rei das Berlengas” (1978) e “O Barão de Altamira” (1986), de Artur Semedo, “Jaime” (1999), “Call Girl” (2007) e “Os Gatos Não Têm Vertigens” (2014), de António-Pedro Vasconcelos, “Kiss Me” (2004) de António da Cunha Telles, “Crónica dos Bons Malandros” (1984) e “O Fio do Horizonte” (1993), de Fernando Lopes, ou “Adeus Princesa” (1994) e O Mistério da Estrada de Sintra” (2007), de Jorge Paixão da Costa.
Em “A firma Pereira” (1995, Roberto Faenza), Nicolau Breyner contracenou com Marcello Mastroianni no seu último filme, um dos muitos contactos com atores de renome internacional que, como recordou Herman José, não lhe pouparam elogios. Jeremy Irons foi um dos mais recentes depois detrabalharem em “Comboio Noturno Para Lisboa” (10213), de Bille August.
Nos últimos anos, Breyner distingiu-se também como realizador, com os thrillers “Contrato” (2009) e “A Teia de Gelo” (2012) e a comédia de grande sucesso “7 Pecados Rurais” (2013).
O actor nasceu a 30 de Junho de 1940, em Serpa. Na adolescência começa por estudar ópera na Juventude Musical Portuguesa e é pensando numa carreira como tenor que entra, em 1959, no Conservatório Nacional, embora acabe por terminar a sua formação no curso de interpretação.
Em 1962 está no Monumental e a partir daí enceta uma carreira no teatro de revista que o havia de o levar ao primeiro plano do teatro nacional.
Alguns dos seus números de revista ficaram ficaram antológicos: o Marquês de Pombal (em “Ó Zé aperta o Cinto” – no teatro Maria Vitória, em 1971), os travestis de Vera Lagoa e Golda Meir (este em “Pró Menino e prá Menina” – no Teatro ABC, 1973).
Em 1993 candidata-se à Câmara de Serpa pelo CDS/PP. A ideia de deixar aos seus filhos uma herança cultural e raízes numa terra onde valesse a pena viver, esteve na base da sua decisão. Eleito vereador, acaba por ver perdido o mandato, por deliberação do Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa.
Nicolau foi o criador, em parceria com Carlos Cruz, da NBP-Produções – a primeira empresa portuguesa a dedicar-se ao negócio de produções de novelas para a televisão.