A realizadora e radialista Sofia Saldanha, conhecida pelos seus documentários sonoros, que cruzaram “poética, documental e ficção”, morreu este domingo, vítima de doença prolongada. A Antena 2 recorda em Janeiro e Fevereiro alguns dos trabalhos de Sofia, nascida em Braga, à 47 anos.
A apaixonada pelos sons do mundo, estreou-se Na Rádio Universitária do Minho (RUM) aos 17 anos, era ainda estudante no Secundário.
O funeral realiza-se esta terça-feira, pelas 14h30, a partir da igreja de Santo Adrião.
António Durães, antigo director de Programas da RUM, recorda que a radialista bracarense cumpriu um percurso de cerca de 15 anos na rádio
“Fez de tudo, das coisas mais básicas às mais complexas e nesse sentido foi amadurecendo um pensamento sobre o que é o som e o mundo. Era absolutamente apaixonada pela imagem. Andava sempre com uma máquina fotográfica. Era uma cabeça no ar (no bom sentido), capaz de ficar pasmada a olhar as coisas mais insignificantes, a descobrir-lhes sentidos. A mesma inocência que foi mantendo”, ao longo dos seus 47 anos, revelou Durães aos microfones da ‘Universitária’.
Já no site da Antena 2, estação para a qual trabalhava, lê-se: “Sofia Saldanha captava os sons do mundo, das gentes e moldava-os. Depois devolvia-nos em sensíveis e astutos documentários, onde víamos e ouvíamos, no escuro e à escuta, as vozes e os passos de poetas como Fernando Pessoa ou Miguel Torga, o espaço sonoro de uma Trovoada, ou colhia como pedrinhas nos caminhos, textos, vozes e sons por vários autores, embrulhando pequenas peças de teatro para serem ouvidos na rádio”.
Em Janeiro e Fevereiro, aquela rádio pública transmite os documentários ‘Vou e venho, memórias de Miguel Torga’ e ‘Síndromes de um coração partido’. Entre os trabalhos que realizou contam-se títulos como ‘1974: o 25 de Abril na rádio, ‘A Trovoada’, ou ‘No escuro e à escuta’.
PERCURSO
Sofia Saldanha nasceu em Braga, em 1975, e começou a trabalhar em rádio em 1992 quando ainda frequentava a escola secundária. Durante 15 anos trabalhou na RUM, tendo completado o mestrado em Rádio do Goldsmiths College, da Universidade de Londres, no Reino Unido, e aprofundado a experiência de documentarista no Salt Institute for Documentary Studies, nos EUA.
Ganhou o prémio de Melhor Novo Artista no Third Coast International Audio Festival (EUA, 2010), esteve nomeada para os Prix Europa em 2019, The HearSay Prize – HearSay International Audio Arts Festival (Irlanda, 2019), Prix Marulic – International Radio Festival (Croácia, 2020), e Prémio Prata na categoria Short Forms do Prix Marulic — International Radio Festival 2021 (Croácia).
Os seus documentários foram transmitidos na Rádio Antena 2, BBC Radio 4, e em inúmeros canais de rádio norte-americanos.
É parte do In The Dark, uma associação que nasceu em Londres em 2010, dedicada a divulgar documentários áudio inovadores, e que organiza regularmente, em espaços públicos, sessões de escuta áudio no escuro, tendo fundado, em 2018, o In The Dark Lisboa.
Sofia Saldanha era ainda membro do Sindicato de Poesia, uma associação cultural, sediada em Braga, que desde Outubro de 1996 trabalha o acto performativo de dizer poesia.
Fernando Gualtieri (CP 7889)