O Museu Nogueira da Silva, Braga, recebe a 29 de Outubro uma exposição dedicada ao pintor bracarense Miguel d’Alte (1954-2007). A mostra é acompanhada pela apresentação de um catálogo comentado da obra deste “pintor maldito” da autoria da investigadora e museóloga Helena Pereira.
A exposição no ‘Nogueira da Silva’ é uma de um conjunto de exposições retrospectivas, todas diferentes, fazendo menção à história que o próprio pintor construiu com cada local, de Vila Nova de Cerveira a Tavira.
No catálogo (comentado), explica Helena Pereira ao PressMinho. “além de uma compilação de textos (antigos e novos) sobre o pintor, do inventário da obra que atinge quase os 1.300 trabalhos, pertencentes a cerca de 170 colecções públicas e privadas, é também possível encontrar uma biografia detalhada do pintor, que nos revela o seu percurso, currículo e qualidade”.
O projecto desenvolvido ao longo de três anos pela também coordenadora do serviço educativo do World of Discoveries, arranca na Casa-Museu Teixeira Lopes, em Vila Nova de Gaia, cidade onde Miguel d’Alte morreu, colhido por um comboio, na tarde da véspera do dia de Natal de 2007. Miguel d’Alte viveu entre o Porto, Lisboa e Vila Nova de Cerveira.
Miguel d’Alte nasceu em Braga a 2 de Fevereiro de 1954. Ainda bebé foi morar com os pais para Moçambique de onde só regressa no final do ano de 1973. No Liceu da Beira é aluno de José Afonso por quem nutrirá, para sempre, profunda admiração.
Participa na sua primeira exposição colectiva, em Portugal, em 1975 e, em 1976 ingressa no Curso Geral de Pintura da Escola Superior de Belas Artes do Porto (atual FBAUP). É este o ano, o de 1976, que o pintor identifica como aquele em que iniciou o seu percurso “acidental e acidentado”, numa autografia encontrada entre os seus apontamentos. Este ano, 2016, passam 40 anos, precisamente, sobre tal data, motivo para que se promova esta releitura da sua obra.
Pintor maldito e alérgico ao mercado
“Pintor maldito”, como o apelidou o pintor Henrique Silva, a história de Miguel d’Alte poderia assemelhar-se à de um Van Gogh. Em vida foi-lhe sempre reconhecido talento, fez várias exposições individuais, participou num sem fim de colectivas, ganhou prémios (sobretudo na década de 1980) e sobre ele escreveram importantes críticos como Bernardo Pinto de Almeida, Eduardo Paz Barroso, Fátima Lambert, Eurico Gonçalves, Rui Mário Gonçalves, entre outros.
O pintor manteve sempre uma espécie de ‘alergia’ ao mercado da arte e às tentativas de manipulação e mercantilização que considerava serem feitas do seu trabalho. Morreu na miséria, num episódio trágico como trágica foi a sua vida, plena de liberdade, mas também de vertigem.
O projecto é financiado, exclusivamente, por mecenas privados e apoiado, a título institucional, por um grupo muito vasto de instituições de todo o país, que trabalharam, quase todas, com este pintor, entre as quais se incluem o Museu Nogueira da Silva (Braga), Cooperativa Árvore (Porto), Fundação Bienal de Cerveira, Câmara Municipal de Gaia, Galeria Alvarez (Porto), Galeria Pedro Oliveira (Porto), Sociedade Nacional de Belas Artes, CAE da Figueira da Foz, Fundação Escultor José Rodrigues, Casa das Artes de Tavira, entre outras.
FG (CP 1200)