O Natal teve “um efeito positivo” nas vendas do comércio e serviços que, em algumas zonas, quase alcançaram os níveis de 2019, mas os resultados “não foram suficientes para recuperar” das quebras anteriores, avançou esta terça-feira a confederação sectorial.
“Dos contactos com os centros e as associações [comerciais], a ideia geral que temos neste momento é que o Natal teve um efeito positivo, comparado com o ano passado, e houve zonas onde até, praticamente, foi possível chegar aos números de 2019. Mas houve muitas outras que não, até porque, à medida que o Natal se aproximou, começou a haver algum receio das pessoas em função do desenvolvimento da pandemia”, afirmou o presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP) em declarações à agência Lusa.
Segundo João Vieira Lopes, “o agravamento da pandemia, independentemente das restrições que possa haver, acaba por ter um impacto psicológico nas pessoas, que se resguardam mais um bocado”.
Embora não disponha ainda de “dados quantitativos” quanto às vendas no período natalício, o líder da CCP tem já uma certeza: “Apesar de os resultados terem sido positivos, não foram suficientes para recuperar o facto de, na primeira parte do ano, ter havido confinamentos e restrições à mobilidade”.
Assim, em “todas as zonas com grande impacto turístico, apesar de ter corrido melhor do que no ano passado, não chegou – nem de perto, nem de longe – a 2019”, ano anterior à pandemia de covid-19.
Já nas “zonas mais urbanas, tradicionais, e [em] alguns mercados, como o vestuário e o calçado, [as vendas] correram positivamente, mas não chegou para recuperar das quebras do primeiro semestre do
À Lusa, João Vieira Lopes manifestou “bastante” preocupação com a decisão do Governo de proibir os saldos no comércio físico entre 25 de Dezembro e 9 de Janeiro”.
EFEITO SALDOS
“Preocupa-nos bastante esta ponta final do ano, porque quer por parte dos consumidores, quer por parte dos comerciantes, havia alguma expectativa em relação a este período de saldos”, confessou.
Embora admitindo que “as pessoas acabarão, provavelmente, por comprar alguma coisa nos saldos de Janeiro”, o dirigente associativo nota que, “à medida que o Inverno entra, as compras reduzem-se, nomeadamente em tudo o que tenha a ver com a estação”, o que acabará “por ter algum efeito” penalizador nas vendas.
Embora reconheça que a medida “é capaz de ter algum efeito” na prevenção de ajuntamentos, conforme pretendido pelo executivo, Vieira Lopes nota que “a sensação, ao longo destes quase dois anos de pandemia, é que o comércio nunca foi um centro muito importante de contágios, porque as pessoas estão relativamente pouco tempo nos estabelecimentos comerciais e de máscara”.
Na sua opinião, esta restrição aos saldos terá sobretudo impacto nas vendas “nos centros comerciais e nas zonas comerciais dos centros das cidades, para onde as pessoas nesta época se deslocam muito” para aproveitar os preços mais baixos.
“Por outro lado – acrescentou – o teletrabalho também introduz algumas restrições” ao normal funcionamento do comércio: “Não havendo restrições em termos de mobilidade, acaba por circunscrever as áreas em que as pessoas têm mais fácil acesso. Por isso, também tem implicações neste momento”, considera Vieira Lopes.
De acordo com o presidente da CCP, outro “aspecto significativo” que impactou o consumo no Natal foi a subida dos preços, resultante do encarecimento do custo das matérias-primas, dos combustíveis e dos transportes.
“Isso também, nalguns casos, retraiu as pessoas nas compras, apesar de ter havido durante a crise uma grande poupança, porque as pessoas não tinham onde fazer compras, a não ser de produtos essenciais”, disse.
Especificamente no caso da restauração, “que estava a recuperar”, João Vieira Lopes refere o impacto negativo das “bastantes limitações” impostas na época natalícia, “por receio dos contágios”, a que se somam os efeitos do teletrabalho, “especialmente em zonas de escritórios”.
Globalmente, na avaliação da Confederação do Comércio e Serviços, o Natal “foi uma época positiva, mas ficou longe da capacidade de recuperar o passado” no sector.