O Norte e o Alentejo foram as regiões do país onde o número de jovens entre os 16 e os 34 anos que não estudam nem trabalham mais se agravou entre 2022 e 2023, com subidas de 12% e de 15% respectivamente, contrariando a tendência decrescente dos últimos anos.
De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), o Norte tem 73 mil jovens sem qualquer vínculo laboral ou ao mundo escolar. Os especialistas apontam o aumento da imigração, o abrandamento das exportações e os custos do Ensino Superior como potenciais causas para a situação na região. Dos quase 2,3 milhões de jovens, com idades entre os 15 e os 34 anos, cerca de 9,2% nem trabalham nem estudam.
“Em termos absolutos, são mais 7,6 mil face ao ano anterior e um pouco acima dos 70,6 mil em 2019. Uma razão possível tem a ver com os custos de frequência do Ensino Superior, com o valor das rendas ser incomportável para um grande número de estudantes deslocados”, avalia, ao JN, João Cerejeira, citado pelo JN, economista e professor na Universidade do Minho.
O economista defende que “os custos para alunos deslocados podem limitar esta opção a jovens oriundos de famílias com menores recursos. Deveríamos caminhar para apoios sociais que tivessem em conta não só o rendimento da família, mas também os custos inerentes à opção pelo Ensino Superior”.
A região tinha, em 2023, 788 mil jovens, sendo que 9,25% eram “nem-nem”.
“É capaz de ter haver com um fenómeno, relativa mente novo em Portugal, que é a imigração”, calcula João Duque, presidente do Instituto Superior de Economia e Gestão, também citado pelo JN.
ABRANDAMENTO DAS EXPORTAÇÕES
O professor catedrático na área das Finanças entende que a subida do número de “nem-nem” no Norte pode estar relacionada com o aumento de “jovens que vêm de fora”, que procuram zonas do país com “acomodação mais baratas” e onde existam empregos ligados à indústria, que têm processos de recrutamento mais simples.
“Há vários polos de actividade na área industrial, como Braga, Aveiro e Guimarães, e são cidades onde as pessoas podem procurar alojamento com condições mais acessíveis”, conclui. Depois da subida de jovens sem trabalho e sem formação entre 2019 e 2020, as estatísticas do INE mostravam um caminho em sentido descendente até 2022, que se inverteu em 2023.
“O abrandamento das exportações de alguns sectores relevantes destas regiões [Ave, Cávado e Tâmega e Sousa] pode ter contribuído para a subida do desemprego. Por outro lado, são regiões com redes de transporte muito mais frágeis do que no Grande Porto, o que limita a possibilidade de mobilidade entre postos de trabalho, se as vagas disponíveis não surgirem num local próximo da residência”, frisa João Cerejeira, certo de que é necessário estudar as causas deste aumento.
PAÍS
Segundo o INE, entre 2022 e 2023, esta população, denominada “nem-nem”, aumentou em todo o país, perfazendo um total de 206 mil jovens. No Alentejo, onde os números vinham a decrescer desde 2019 (ano em que se contaram cerca de 12 mil “nem-nem”) registou-se um aumento de 15%.
Em 2022, contavam-se cerca de sete mil pessoas nesta situação e, em 2023, subiu para os oito mil. Na região que conta com cerca de 143 mil jovens, 5,84% não têm vínculos ao mundo escolar nem laboral. Já no Norte, o aumento foi de 12%, que se traduz em 73 mil pessoas entre os 16 e os 34 anos sem trabalho nem formação.
Na Grande Lisboa, também houve um agravamento de 6%. Já nas regiões do Oeste e Vale do Tejo e da Península de Setúbal, registou-se uma melhoria, tendo descido 4% e 25%. Ainda assim, dos 659 jovens da Área Metropolitana de Lisboa, 10,96% são “nem-nem”.
No Algarve, continua a baixar. Dos 98 mil jovens daquela região, 5,84% não trabalham nem estudam. Para João Duque, esta melhoria pode estar relacionada com o turismo, que tem vindo a crescer nos últimos anos.
Apesar de, em 2022, se ter registado uma descida no número de desempregados nas sub-regiões do Norte, em 2023 houve um aumento em quase todas, à excepção da Área Metropolitana do Porto e do Douro, onde esse indicador melhorou. Já no ano passado, até ao terceiro trimestre, apenas o Douro manteve a tendência de descida.
Com JN