Os taliban falaram pela primeira vez desde que assumiram o controlo do Afeganistão, em conferência de imprensa esta terça-feira, a partir de Cabul. Dizem sentir-se orgulhosos por terem conseguido emancipar o país e tornarem-se independentes. Para o seu futuro governo, prometem não guardar ressentimentos e garantem que ninguém será vingado e que as mulheres vão poder trabalhar e estudar, mas dentro do enquadramento da lei islâmica.
O porta-voz Zabihullah Mujahid prometeu que os “taliban não vão guardar ressentimentos e garantiram que “ninguém sairá magoado”.
Depois de destacar aquele que considera ser “um momento de orgulho”, Zabihullah Mujahid começou por garantir que o Afeganistão não será usado para cometer ataques “contra pessoas ou países” e que o território afegão já não é “um campo de batalha”.
“O Emirado [Islâmico do Afeganistão] não se vai vingar de ninguém”, disse. “Todas as facções, de A a Z, serão perdoadas (…) O Afeganistão já não é um campo de batalha. As animosidades terminaram”, acrescentou.
“Ninguém vai ser tratado com vingança. Todos os colaboradores do anterior regime e tradutores dos EUA não serão maltratados caso regressem a casa. Vivemos momentos desafiantes e crises. Também foram cometidos erros, mas agora não queremos mais um cenário de guerra. Gostaríamos de viver pacificamente e não queremos ter inimigos internos e externos”, assegurou o porta-voz dos taliban.
“MULHRES PODEM ESTUDAR”
Já acerca do futuro das mulheres, Zabuhullah Mujahid garantiu que as afegãs vão poder trabalhar e estudar, embora dentro do enquadramento da lei islâmica.
“Estamos comprometidos com os direitos das mulheres, no quadro da sharia [a lei islâmica]. As mulheres afegãs são muçulmanas”, disse.
“Elas vão estar lado a lado connosco. Queremos garantir à comunidade internacional que não existirá discriminação”, assegurou o responsável.
“As mulheres islâmicas devem viver segundo a sharia e podem ter posições políticas relevantes em matérias como a saúde e a educação, matérias para as quais as mulheres estão vocacionadas”, explicou.
“Vamos permitir que as mulheres trabalhem e estudem, dentro dos nossos padrões. As mulheres vão ser muito activas na nossa sociedade, mas dentro das nossas molduras”, indicou, adiantando poucos detalhes sobre o futuro das mulheres.
Sublinhe-se que antes da conferência de imprensa, os taliban já tinham anunciado uma amnistia geral para os funcionários do Estado e diziam querer mulheres no governo.
Numa declaração transmitida pela televisão afegã, citada pela agência de notícias Associated Press (AP), os talibãs garantiram que “não querem que as mulheres sejam vítimas”.
IMPRENSA “LIVRE”
Na mesma conferência de imprensa, Zabihullah Mujahid dirigiu-se aos órgãos de comunicação social privados garantindo que estes irão manter-se “livres” e “independentes”. Contudo, lembrou que “não devem trabalhar contra os valores nacionais”.
“Quero garantir aos meios de comunicação social que estamos comprometidos com eles, dentro dos nossos padrões culturais”, disse.
O porta-voz dos taliban sublinhou ainda que o grupo não quer que o povo afegão abandone o país, particularmente aqueles que trabalharam com poderes estrangeiros, e garantiu, mais uma vez, que “ninguém irá ser tratado com vingança”.
“Ninguém vai bater à porta deles e perguntar para quem andaram a trabalhar. Vão estar seguros. Ninguém vai ser interrogado ou perseguido”, assegurou.
“Prometo que muito brevemente vão ter um governo e uma lei. Deixem que o governo seja formado, as leis, para que seja explicado o que será ou não permitido”, rematou.
Apesar das promessas, a maioria da população mantém-se céptica, com as gerações mais velhas a recordarem nitidamente o ultraconservadorismo islâmico defendido pelos taliban nos anos 1990, incluindo as severas restrições às mulheres, os apedrejamentos, amputações públicas e o isolamento em relação ao resto do mundo.
Além disso, os taliban asseguram à comunidade internacional que o Afeganistão não será usado para receber extremistas da Al-Qaeda.
“O solo afegão não será usado contra ninguém”, sublinhou Zabuhullah Mujahid.
Redacção com Associated Press, TSF e i