Rui Pinto quis ler, esta sexta-feira, durante a primeira sessão de julgamento, no Tribunal Central de Lisboa, no Campus da Justiça, uma pequena declaração, onde argumentou não ser um hacker, mas sim um denunciante e garantiu que nunca fez nada por dinheiro.
“O meu trabalho como ‘whistleblower’ está terminado. Nunca recebi dinheiro pelo que fiz. Não sou hacker, sou denunciante. Tornei pública muita informação importante, que de outra forma nunca seria conhecida” disse o criador da plataforma Football Leaks, de 31 anos, que está a ser acusado de 90 crimes.
Nesta altura, a juíza que preside ao colectivo interrompeu o hacker sublinhando que este não estava a falar dos factos de que estava acusado, mas sim a descrever manifestações de vontade.
Apesar da interrupção, Rui Pinto continuou, mostrando-se orgulhoso com os factos que denunciou.
“Estou aqui numa estranha situação: sou arguido e testemunha protegida. Fui alvo de uma campanha da calúnia e difamação. Estive um ano e meio preso, com sete meses de isolamento total. Foi muito difícil”, observou, acrescentando que as revelações que fez são motivo de “orgulho e não vergonha”.
A primeira sessão do julgamento, presidida pela juíza Margarida Alves, que estava agendada para as 09h30, começou às 10h45, rodeada de forte aparato policial – expresso num perímetro de segurança em torno das instalações e com a presença de unidades especiais da Polícia de Segurança Pública (PSP) — e mediático, atraindo dezenas de jornalistas de vários países.
Nas imagens recolhidas por repórteres de imagem e fotojornalistas antes do início da sessão foi ainda possível observar Rui Pinto na sala com máscara de protecção, devido às regras sanitárias por causa da pandemia da covid-19.
À entrada, os advogados que representam o criador do Football Leaks, Francisco Teixeira da Mota e William Bourdon, não quiseram prestar declarações, à semelhança do advogado Aníbal Pinto, o outro arguido do processo, pronunciado apenas pelo crime de extorsão, na forma tentada.
Rui Pinto, de 31 anos, vai responder por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol e a Procuradoria-Geral da República, e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada.
O criador do Football Leaks encontra-se em liberdade desde 7 de Agosto, “devido à sua colaboração” com a PJ e ao seu “sentido crítico”, mas está, por questões de segurança, inserido no programa de protecção de testemunhas em local não revelado e sob protecção policial.
Fonte: Executive Digest