O imã da mais importante universidade do mundo islâmico elogiou o Papa Francisco como sendo um homem de paz, depois de um encontro entre os dois, na segunda-feira.
As filosofias e os regimes que se afastaram da religião não têm conduzido nem à paz nem à felicidade, pelo que os líderes religiosos são chamados novamente a tomar a dianteira para dar um novo rumo à humanidade, considera o imã da Universidade de Al-Azhar.
Depois de se ter encontrado com o Papa no Vaticano, na passada segunda-feira, o sheikh Ahmed Mohamed el-Tayeb deu uma entrevista à sala de imprensa da Santa Sé, em que partilhou algo da sua conversa com Francisco.
Questionado sobre a responsabilidade dos líderes religiosos no mundo actual, o sheikh el-Tayeb disse que são grandes e de peso. “Como disse Sua Santidade, todas as filosofias e ideologias sociais modernas que tomaram o destino da humanidade afastadas da religião e do Céu não foram capazes de a tornar feliz nem de a afastar das guerras e do derramamento de sangue. Creio que chegou o momento de os representantes das religiões divinas agirem com força e de forma concreta para conduzir a humanidade numa nova direcção, rumo à misericórdia e à paz, para que possa evitar as grandes crises que sofremos agora.”
“O homem sem religião constitui um perigo para o seu próximo e creio que as pessoas começaram agora, no século XXI, a procurar guias sábios que os conduzam na direcção certa”, afirma o imã.
Neste sentido, el-Tayeb rejeita a ideia de que o islão seja culpado pela violência e pelo terrorismo religioso que se abate sobre grande parte do mundo.
“Sim, o terrorismo existe, mas o islão não tem nada a ver com este terrorismo. Isto aplica-se ao ulama [corpo de líderes e clérigos muçulmanos reconhecidos] e aos cristãos e muçulmanos no Oriente. Aqueles que matam muçulmanos, e cristãos, compreenderam erradamente os textos do Islão, intencionalmente ou por negligência”.
O imã considera que é contraproducente apresentar a violência que os cristãos no Médio Oriente sentem, por exemplo, como sendo uma perseguição. “Não deve ser apresentada como uma perseguição aos cristãos no Oriente, pois há mais vítimas muçulmanas que cristãs e todos sofremos esta catástrofe juntos”, afirma.
“Não devemos culpar as religiões pelos desvios de alguns dos seus seguidores, porque em todas as religiões existe uma facção dissidente que ergue a bandeira da religião e mata em seu nome”.
Na linha da frente do combate à radicalização
Segundo explica, a Universidade de Al-Azhar, que é a mais prestigiada do mundo muçulmano, dedica-se precisamente a tentar combater este fenómeno. “Clarificamos os conceitos islâmicos que foram deturpados por aqueles que usam a violência e o terrorismo”, explica, acrescentando que estas clarificações são depois integradas nos currículos escolares que a universidade administra.
“Estabelecemos um observatório mundial que monitoriza, em oito línguas diferentes, o material disseminado por estes movimentos extremistas e as ideias distorcidas que deturpam os jovens. Este material é depois corrigido e traduzido para outras línguas”, explica ainda.
O encontro entre o imã e o Papa foi particularmente importante, uma vez que marcou o restabelecimento de relações entre as duas entidades desde que estas foram interrompidas em 2011.
Na altura, a Universidade de Al-Azhar criticou o facto de Bento XVI ter pedido o fim da perseguição aos cristãos no Egipto, após um massacre em Alexandria na noite de Natal dos coptas, como são conhecidos os cristãos egípcios.
Fonte: Renascença