O debate quinzenal desta quinta-feira fica marcado pelo trio atacante André Ventura, Catarina Martins e António Costa. Todos trocaram argumentos em jeito de ataque, mas foi Costa quem saiu vencedor com a ajuda de Ricardo Quaresma. Houve “caixotes do lixo”, “trivelas” e “bailes”, no Parlamento, e tudo por causa de uma proposta do Chega que quer um confinamento específico da comunidade cigana.
Questionado por André Ventura, o primeiro-ministro garantiu que em Portugal “não há problemas com a comunidade cigana”, acrescentando que “temos é problemas com pessoas que cumprem ou não cumprem as normas sanitárias. A resposta, qualquer que seja a etnia, local de vida, origem, religião ou raça, é que a lei deve ser cumprida”.
André Ventura insistiu na pergunta e o chefe de Governo foi peremptório: “Não há um problema com a comunidade cigana, o senhor deputado é que tem um problema que já foi de trivela”, afirmou Costa, numa referência às críticas de Ricardo Quaresma à proposta do Chega para confinar a comunidade cigana.
O primeiro-ministro prosseguiu na resposta a André Ventura, o único deputado do Chega. “Resolveu criar um caso com uma parte dos portugueses como se fossem uma comunidade estrangeira e o que teve foi uma resposta à altura de um grande campeão nacional e de um grande jogador da nossa Selecção”.
António Costa conclui, dizendo que André Ventura tem mau perder. “Depois de levar baile do Quaresma foi dizer que sendo jogador da Selecção nacional só tinha obrigação de estar calado. Não, o direito à palavra e à opinião é um direito de todos””, atirou o primeiro-ministro.
CAIXOTE DO LIXO
“Mais rápido a bancada do BE vai toda para o caixote do lixo”
Catarina Martins, do Bloco de Esquerda, também criticou antes a proposta apresentada por André Ventura e saudou a resposta de Ricardo Quaresma.
O deputado do Chega respondeu à líder do Bloco de Esquerda no início da sua intervenção no debate quinzenal. Ventura afirmou que “mais rápido a bancada do Bloco de Esquerda vai toda para o caixote do lixo”.
O líder demissionário do Chega garantiu, na quarta-feira, que “não voltará atrás” na proposta para um plano específico de “abordagem e confinamento” para as comunidades ciganas e que apresentará essa iniciativa mesmo sem apoio de outros partidos políticos, nomeadamente PSD, CDS e Iniciativa Liberal.
Antes, a líder do BE dirigiu-se a André Ventura para considerar “inqualificável” a proposta de confinar a comunidade cigana.
COBARDIA
“Permita-me que, antes do debate, faça uma nota. Às vezes há uma linha ténue demais entre ignorar para não dar visibilidade à atrocidade ou, pelo silêncio, consenti-la. André Ventura fez uma proposta inqualificável de decidir confinamento de pessoas, tendo em conta a sua origem étnica”, afirmou Catarina Martins no arranque da sua intervenção no debate quinzenal.
Catarina Martins considera que o Chega não só tem opiniões repugnantes”, como André Ventura tem “a cobardia” de querer calar quem a ele se opõe, referindo-se à reacção do líder do Chega às declarações de Quaresma.
Na perspectiva da líder bloquista, André Ventura “teve a resposta que devia por um campeão português”, referindo-se novamente a Ricardo Quaresma.
Dirigindo-se directamente a André Ventura, Catarina Martins prometeu lutar pelo direito do deputado “a ter opiniões sobre futebol”, embora também garanta que vai batalhar “para acabar com a pouca vergonha de receber vários salários além do de deputado”.
“E, no que disser respeito ao Bloco, fique certo de que as suas ideias racistas hão de ir parar ao caixote de lixo de onde nunca deviam ter saído”, avisou ainda Catarina Martins.
Através de uma publicação na sua conta oficial da rede social Facebook, o futebolista Ricardo Quaresma criticou que “o populismo racista do André Ventura apenas serve para virar homens contra homens em nome de uma ambição pelo poder, que a história já provou ser um caminho de perdição para a humanidade”.
Resposta na íntegra de Ricardo Quaresma no Facebook
“Triste de quem tenta ser alguém na vida atirando os homens uns contra os outros.
Quando um homem se ajoelha na frente de Deus devia olhar para Deus com o mesmo amor com que Deus olha para nós, sem distinção de raça ou cor.
Triste de quem se ajoelha só para ficar bem na fotografia, para enganar os outros e parecer um homem de bem aos olhos do povo.
A seleção nacional de futebol é de todas as cores, pretos, brancos e até ciganos. Em todos bate no coração a vontade de dar a glória ao país e no momento de levantar os braços e celebrar um golo acredito que nenhum português celebre menos porque o jogador é preto, branco ou cigano.
Eu sou cigano. Cigano como todos os outros ciganos e sou português como todos os outros portugueses e não sou nem mais nem menos por isso.
Como homem, cigano e jogador de futebol já participei em várias campanhas de apelo contra o racismo, não porque parece bem mas porque acredito que somos todos iguais e todos merecemos na vida as mesmas oportunidades independentemente do berço em que nascemos.
O populismo racista do André Ventura apenas serve para virar homens contra homens em nome de uma ambição pelo poder que a história já provou ser um caminho de perdição para a humanidade.
Olhos abertos amigos, o populismo diz sempre que é simples marcar golo mas na verdade marcar um golo exige muita tática e técnica.
Olhos abertos amigos, o racismo apenas serve para criar guerras entre os homens em que apenas quem as provoca é que ganha algo com isso.
Olhos abertos amigos, a nossa vida é demasiado preciosa para ouvirmos vozes de burros…isto se queremos chegar ao céu”.
Redacção com TSF
Foto Ricardo Quaresma/Facebook