O Papa Francisco pediu, esta segunda-feira, “perdão pelo mal cometido” contra os nativos do Canadá, em particular nos internatos para crianças geridos pela Igreja Católica, e lamentou que alguns dos seus membros tenham “cooperado” em políticas de “destruição cultural”.
“Estou triste. Peço perdão”, referiu o Sumo Pontífice da Igreja Católica a milhares de nativos em Maskwacis, no oeste do Canadá, país onde chegou no domingo para uma “peregrinação penitencial”, um gesto esperado há anos.
Referindo-se a um “erro devastador”, o Papa Francisco reconheceu a responsabilidade da Igreja num sistema em que “as crianças sofreram abusos físicos e verbais, psicológicos e espirituais”.
As palavras do líder da Igreja Católica, traduzidas do espanhol para inglês, foram recebidas com fortes aplausos após o pedido de perdão, noticiou a agência France-Presse (AFP).
No total, o Sumo Pontífice pediu “perdão” três vezes, “com vergonha e clareza”, naquele que foi o primeiro discurso, de uma viagem há muito esperada, proferido no local do antigo internato Ermineskin, na presença de muitos sobreviventes de comunidades indígenas, como Primeiras Nações, Métis e Inuit.
“O local onde estamos agora faz ressoar em mim um grito de dor, um grito abafado que me acompanhou nos últimos meses”, atirou, referindo-se aos “traumas” sofridos por gerações de indígenas e às “feridas ainda abertas”.
MILHARES DE CRIANÇAS MORTAS
Entre o final do século XIX e os anos 1990, cerca de 150.000 crianças indígenas foram recrutadas à força para mais de 130 destas instituições. Aí foram isolados das famílias, da língua e cultura, e foram frequentemente vítimas de violência. Pelo menos 6.000 crianças morreram nestas instituições.
A descoberta em 2021 de mais de 1.300 sepulturas não identificadas perto destas escolas provocou uma onda de choque no país, que está lentamente a abrir os olhos para este passado, descrito como “genocídio cultural” por uma comissão nacional de inquérito.
“As políticas de assimilação acabaram por marginalizar sistematicamente os povos indígenas (…) As suas línguas e as suas culturas foram denegridas e suprimidas”, continuou Francisco.
“Recordar as experiências devastadoras que ocorreram em escolas residenciais afecta-nos, deixa-nos indignados e magoa-nos, mas é necessário”, acrescentou.
Realçando a necessidade de “lembrar”, o Papa Francisco, de 85 anos, assegurou ainda que “o pedido de desculpas não foi um ponto final”, mas “apenas o primeiro passo” no caminho para a “cura”.
O líder da Igreja Católica chegou no final da manhã de domingo a Edmonton, no oeste do Canadá, para a primeira de três paragens na sua viagem.
Francisco visita também a cidade de Quebeque e Igaluit, a capital do território de Nunavut, uma cidade do extremo norte do Canadá no arquipélago árctico, antes de partir na sexta-feira.
O Papa já pediu desculpa a uma delegação de nativos canadianos no Vaticano, em Abril passado. Ao todo, Francisco deve fazer quatro discursos e quatro homilias, todos em espanhol. É o segundo Papa a visitar o Canadá, depois de João Paulo II.