“Este é um dia histórico”. Foi desta maneira que Joacine Katar Moreira encerrou o debate sobre o projecto de resolução apresentado por ela para a concessão de honras do Panteão Nacional a Aristides de Sousa Mendes. André Ventura faltou.
Com a presença nas galerias da família do antigo cônsul que salvou milhares de vidas na segunda guerra mundial, os partidos sinalizaram o consenso para honrar a memória de “um herói”.
Na apresentação do projecto, Joacine Katar Moreira sublinhou a necessidade de “o Estado Português reconhecer a Aristides de Sousa Mendes o que o Estado fascista não reconheceu”. E de todas as bancadas se ouviram elogios ao antigo cônsul.
Desde logo, o Partido Socialista lembrou que “num momento em que de novo na Europa e no mundo assistimos ao exacerbar de extremismos, ao recrudescimento do antissemitismo, ao fecho de fronteiras, de solidariedade e humanidade a quem procura sobreviver a conflitos e perseguições, a mensagem de Aristides Sousa Mendes deve ser convocada em toda a sua actualidade e autoridade para nos mostrar os caminhos a trilhar e para iluminar de novo o caminho”.
Pedro Delgado Alves, na tribuna, deixou ainda um comentário que pode ser lido como uma farpa dirigida a André Ventura, ausente deste debate, sublinhando que a defesa destes valores e a preservação da memória “não se faz apenas com evocações justas e cerimónias bonitas”.
“Constrói-se dando combate sem tréguas ao antissemitismo e à discriminação religiosa e étnica, denunciando quem rejeita, por vezes a partir desta mesma tribuna, os valores humanistas comuns aos clássicos da Antiguidade, ao pensamento judaico-cristão, à tradição das Luzes e às ideias emancipadoras de vários quadrantes ideológicos que foram libertando a humanidade ao longo dos últimos dois séculos e meio”.
Também o Bloco de Esquerda, na voz de Beatriz Gomes Dias, vincou que Aristides de Sousa Mendes é uma das pessoas que lembra a sociedade da “necessidade da insubmissão e de nos levantarmos contra a injustiça”.
Já o social-democrata Fernando Ruas fez questão de sublinhar que, assim a família seja consultada, o PSD acompanhará este projecto de resolução.
Bem como o PCP que, lembrando que as “honras não devem ser banalizadas”, mas que no caso de Aristides o partido entende que “a Assembleia da República deverá aceder a esta proposta”.
Na intervenção no hemiciclo, o deputado António Filipe lembrou ainda que Aristides sofreu às mãos de Salazar “que não era neutral”, mas “aliado da Alemanha nazi”.
Sobre esta que é a primeira vitória política de Joacine Katar Moreira no parlamento, o CDS também fez questão de frisar que Aristides de Sousa Mendes foi “um herói” e que, por isso, “merece honras de panteão”.
Declaração acompanhada pela Iniciativa Liberal cujo deputado único, João Cotrim de Figueiredo, também frisou o “heroísmo” de Aristides.