O PCP prossegue a comemoração do Centenário de Victor de Sá este sábado, pelas 17h30, no Museu Nogueira da Silva, em Braga, com a apresentação pública da reedição da obra ‘Fascismo no quotidiano’.
A apresentação da obra conta com a participação de Francisco Melo, da editora Página a Página, Fernanda Ribeiro, professora na Faculdade de Letras da Universidade do Porto e autora do prefácio, e de Manuel Rodrigues, membro da Comissão Política do Comité Central do PCP e director do jornal Avante!.
A comemoração dos comunistas teve início a 2 de Junho, no Theatro Circo, com a conferência ‘Victor de Sá: uma vida de acção cívica, política e cultural’, , no. Incluiu também uma exposição evocativa no espaço da Organização Regional de Braga na edição deste ano Festa do Avante!.
HOMENAGENS QUE FALTAM
Em nota à comunicação social, o PCP escreve que depois de ter apresentado em sede da Câmara de Braga um conjunto de propostas alusivas ao Centenário de Victor de Sá, “continuará a bater-se pela concretização das iniciativas então aprovadas unanimidade no Executivo Municipal, nomeadamente a colocação de uma placa alusiva ao Centenário no passeio frente ao local onde funcionou a livraria Victor, na rua dos Capelistas, em Braga; a atribuição do nome de Victor de Sá a uma sala de leitura da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva e a promoção do Roteiro da Resistência, dirigido à população estudantil do município e a turistas, “visando a identificação dos espaços de encontro dos democratas e antifascistas da cidade, explicando a sua actividade e o seu papel na luta pela liberdade e democracia”.
A promoção de um concurso de ideias para elaboração de peça escultórica alusiva à Resistência e Luta pela Democracia, com vista à sua colocação em espaço público junto ao Theatro Circo, “local de manifestações pela liberdade”; a realização de uma sessão evocativa da vida e obra de Victor de Sá; e a reedição, através da Fundação Bracara Augusta, da obra de Victor de Sá intitulada ‘Testemunho de um Tempo de Mudança’ e a sua disponibilização gratuita em formato e-book na página do município na Internet são outras das iniciativas que os comunistas bracarenses querem ver concretizadas.
A Direcção Regional de Braga do PCP saúda ainda as iniciativas evocativas do Centenário de Victor de Sá organizadas em Braga, Porto e Lisboa, e as respectivas entidades organizadoras: Universidade do Minho, Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, Universidade do Porto e Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, entre outras.
PERFIL DO LUTADOR
Joaquim Victor Batista Gomes de Sá nasceu em 14 de Outubro de 1921, na freguesia de Cambeses, em Barcelos, mas cedo se transferiu para Braga, cidade onde viveu grande parte da sua vida e desenvolveu o seu percurso profissional, cívico e político.
Estudou no Liceu de Sá de Miranda e dedicou-se à actividade cultural em Braga. Em 1942, criou a ‘Biblioteca Móvel’, levando a leitura a cidadãos sem recursos nas cidades ou nos meios rurais.
Em 1947, abriu em Braga a Livraria Victor, à qual, mais tarde, juntou o nome ‘Centro Cultural do Minho’. Esta foi um verdadeiro centro de difusão do livro e ponto de encontro de muitos leitores, em especial do Norte do País. Fruto da sua actividade cultural e política, foi por oito vezes detido pela PIDE, acusado de integrar o Partido Comunista Português. É autor de inúmeras publicações, tendo ao longo da vida mais de 600 títulos de artigos e mais de 30 livros.
A sua actividade de publicista iniciou-se publicamente em 1937, no jornal Correio do Minho, do qual viria a ser, após o 25 de Abril de 1974, director provisório.
Participou activamente nas candidaturas presidenciais de Norton de Matos (1948), Arlindo Vicente e Humberto Delgado (1958). Dinamizou as candidaturas da Oposição pelo distrito de Braga à Assembleia Nacional, integrando as respectivas listas em várias delas. Participou nos Congressos Republicanos de Aveiro.
Em 1959 terminou a sua licenciatura em Ciências Históricas e Filosóficas na Universidade de Coimbra e concorreu a professor do ensino secundário.
Foi nomeado professor da Escola Comercial e Industrial de Braga, mas foi impedido, por ‘desnomeação’, de tomar posse do lugar, por acção directa de alguns eminentes bracarenses do regime e decisão do Conselho de Ministros.
Na Universidade de Sorbonne desenvolveu o aprofundamento científico que lhe permitiu apresentar a sua tese e obter o grau de doutoramento em História pela Universidade de Paris. O seu doutoramento só foi reconhecido em Portugal em 1975.
Foi Professor na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (1974-1991), Universidade do Minho e Universidade Lusófona, de cuja biblioteca foi obreiro e director, e que hoje leva o seu nome.
Doou o seu espólio documental à Biblioteca Pública de Braga.
Tomou a iniciativa mecenática do Prémio de História Contemporânea, que hoje leva o seu nome e é promovido pelo Conselho Cultural da Universidade do Minho e vai já na sua 30ª edição.
Agiu num grupo de democratas que, a partir de Braga, trabalharam incansavelmente para as movimentações da Oposição com vista ao derrube do fascismo.
No ‘Verão Quente’ de 1975 foi vítima de ameaças dos terroristas do MDLP, tendo a sua livraria sido objecto, em várias noites, de apedrejamento e tiros.
Foi o primeiro deputado à Assembleia da República eleito pelo PCP no círculo eleitoral de Braga, tendo desempenhado essa função entre 1980 e 1981, onde presidiu à Comissão Parlamentar de Cultura e Ambiente e subscreveu vários projectos de lei, entre os quais um de defesa do património arqueológico, outro sobre as associações de defesa do património cultural e outro ainda sobre os direitos dos trabalhadores-estudantes.
Em 1990 recebeu do Presidente Mário Soares a Comenda da Ordem da Liberdade. Faleceu em Braga, em 31 de Dezembro de 2003.