O Portal da Construção Sustentável (PCS) divulgou esta segunda-feira que a desconstrução do prédio Coutinho, Viana do Castelo, não é mais do que “uma demolição comum”, quando “deveria e poderia ter sido um desmonte exemplar”, visando a “reutilização de materiais”.
“Separar e britar os Resíduos de Construção e Demolição (RCD) e encaminhá-los para uma gestora de resíduos já é obrigatório em Portugal há mais de 10 anos”, afirmou esta segunda-feira a arquitecta Aline Guerreiro, administradora do PCS, citada numa nota enviada às redacções.
Para Aline Guerreiro, a intervenção em curso no edifício de 13 andares, no centro histórico de Viana do Castelo, “deveria/poderia” ser o que “ainda não se faz em Portugal, e que já é prática comum nos países mais evoluídos da Europa, como Dinamarca, Holanda ou Alemanha, que é a reutilização dos materiais em bom estado, em vez de os britar”.
A empreitada, iniciada em Dezembro último, orçada em 1,2 milhões de euros, foi adjudicada pela sociedade VianaPolis à empresa Baltor.
Contactado pela agência Lusa, o vogal executivo do conselho de administração da VianaPolis, Tiago Delgado, disse que tem sido feito “tudo o que é possível” para reutilizar materiais que na “teoria é uma coisa, mas prática e, na realidade, é um bocadinho diferente”.
“É mais uma pedra na engrenagem, que não vai atrasar o processo. Está o comboio em andamento. Pode haver este ruído, mas não há hipótese”, referiu.
Em 2018, o PCS escolheu o edifício Jardim como caso de estudo de construção selectiva, financiado pelo Fundo Ambiental, tutelado pelo Governo.
Neste estudo, o PCS faz recomendações de desconstrução selectiva por forma a reutilizar os materiais em bom estado.
Aponta, entre outros exemplos de materiais “em perfeito estado para novas utilizações”, 359 torneiras e 1.885 portas de madeira maciça, incluindo portas de roupeiros.
“O responsável pela empreitada a quem a Viana Polis entregou o trabalho ter referido que as portas entraram novamente no mercado, não foi capaz de informar qual a economia gerada pela sua venda, nem a quem foram vendidas e onde poderão vir a ser reutilizadas”, referiu Aline Guerreiro, referindo-se às declarações do administrador da Baltor.
Na semana passada, em declarações à agência Lusa, Cláudio Costa disse que “as portas entraram novamente no mercado”, admitindo que o reaproveitamento de materiais seja ainda uma prática “muito pouco madura” em Portugal.
Já o material restante, acrescentou, vai ser encaminhado para os destinos de reciclagem, sendo que os inertes vão ser todos britados de modo a serem aproveitados noutras obras.
“Seria um óptimo exemplo para divulgar e estimular o início de um mercado de materiais de construção em segunda mão, que como o próprio refere, é um mercado ainda embrionário, mas que deve ser especulado”, sustenta a administradora do PCS.
Para a plataforma sem fins lucrativos de divulgação de informação sobre construção e sustentabilidade, a desconstrução do edifício, que “seria um bom exemplo da diminuição do impacte ambiental associado ao sector da construção”, não representa “nada de inovador e de exemplar em termos de sustentabilidade”, não passando de “uma demolição comum”.
A arquitecta adiantou ter questionado “há algumas semanas” a sociedade VianaPolis “sobre os resultados daquilo a que chamam de desconstrução”, mas “até hoje [segunda-feira] não obteve qualquer resposta”.
O PCS nasceu em 2010 e a sua actividade baseia-se em “disponibilizar informação actualizada sobre o sector dos edifícios, com enfoque na qualidade da construção, na eficiência energética e na reabilitação, consciencializar a população e as empresas do sector para esta nova realidade, através de ferramentas ‘online’ e projectos de sensibilização, e divulgar produtos e/ou serviços que respondam a esta realidade”.