Ahmed Ashour perdeu, esta quarta-feira, a mulher e dois dos três filhos num bombardeamento israelita à Faixa de Gaza. Khan Yunis, de 35 anos, a filha, de 12, e o filho, de 6. Eram três dos luso-palestinianos que faziam parte de um grupo de cidadãos que aguardavam retirada de Gaza por indicação de Portugal.
A última vez que Ahmed falou com a mulher e os filhos foi na terça-feira, um dia antes do bombardeamento fatal
Ahmed responsabiliza o Governo português pela morte da família e diz que o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, nada fez para salvar os portugueses em Gaza.
“O ministro dos Negócios Estrangeiros deve demitir-se porque não fez os esforços necessários para garantir a vida dos portugueses”, afirmou, em declarações à RTP.
Ahmed recordou que durante este tempo falou várias vezes com o Ministério dos Negócios estrangeiros. “Diziam que estavam a tentar resolver, para esperar mais um dia”, desabafou.
A última vez que Ahmed falou com a mulher e os filhos foi na terça-feira, um dia antes do bombardeamento fatal.
“Só ligou depois da minha família estar morta”, acrescentou. Segundo o canal público, a família Ashour esperou 39 dias para ser resgatada.
DIFICULDADES NA FRONTEIRA
De recordar que João Gomes Cravinho asseverou ainda que esta quinta-feira estava a ser preparada a retirada de 10 portugueses pela passagem de Rafah.
Entretanto, João Gomes Cravinho, que falava no final da cerimónia que marcou os 50 anos da declaração unilateral da independência da Guiné-Bissau, disse à Lusa esta quinta-feira, em Bissau, que existem dificuldades na fronteira de Rafah, não tendo sido ainda possível resgatar os dez cidadãos que se encontram na Faixa de Gaza sinalizados por Portugal.
“Ontem [quarta-feira] fomos informados pelas autoridades egípcias e israelitas que sairiam esta quinta-feira. Até agora não tem sido possível”, disse, referindo que “tem havido muitos problemas na fronteira” de Rafah, entre a Faixa de Gaza e o Egipto, mantendo-se as autoridades portuguesas “em contacto permanente” com as do Cairo e de Telavive.
Afirmando não ser ainda “claro se conseguem sair hoje ou se terá de ser adiado”, Cravinho disse que a sua “expectativa é que possam sair em breve”, sublinhando que a retirada não depende de Portugal.
Em comunicado divulgado na quarta-feira à noite, o Ministério dos Negócios Estrangeiros afirmou que as autoridades egípcias, em articulação com Israel, tinham autorizado a saída da Faixa de Gaza de dez cidadãos sinalizados por Portugal, dois dos quais luso-palestinianos.
“A saída deverá decorrer, sob coordenação das autoridades locais, através da passagem de Rafah, nas próximas horas, a qual estará aberta para a retirada de cidadãos estrangeiros de Gaza para o Egipto”, referiu então a diplomacia portuguesa, no mesmo comunicado em que anunciou a morte de três portugueses num bombardeamento no sul da Faixa de Gaza.