O presidente da Fundação Bienal de Arte de Cerveira (FBAC), Fernando Nogueira, disse esta terça-feira estar “completamente desiludido” com a falta de apoio da Direcção-Geral das Artes (DGArtes) para 2020/2021, referindo que a decisão “prejudica a cultura e arte no Norte”.
“Estou completamente desiludido com esta decisão. O que devo dizer é que quem manda pode. Não sei se é uma decisão técnica ou política. Parece-me ser mais uma decisão política do que técnica, porque a candidatura da fundação estava bem sustentada. É uma decisão que prejudica os interesses da cultura e das artes no Norte. Isso é uma constatação mais do que evidente”, afirmou Fernando Nogueira, citado pelo Porto Canal.
Contactado pela agência Lusa, a propósito dos resultados definitivos do Programa de Apoio Sustentado 2020-2021 que esta terça-feira começaram a ser divulgados pela DGArtes e que excluem a bienal, o responsável pela fundação reafirmou ser “estranho que os apoios fiquem circunscritos à região de Lisboa”.
“Este concurso foi a prova provada de que Lisboa continua a ter muito força e a sobrepor-se ao resto do país em todas as áreas e então nas artes é mais do que evidente. O Governo tomou esta posição ou quem decidiu, mas em última instância, como é óbvio, é o Governo que tem responsabilidade pelo que aconteceu”, frisou.
Fernando Nogueira, que é também presidente da Câmara de Vila Nova de Cerveira, garantiu que a bienal irá realizar-se em 2020.
“Haverá, com toda a certeza, bienal de artes no próximo ano. Certamente num modelo mais mitigado, mas tudo faremos para manter a qualidade a que a bienal nos habituou nos últimos anos. Terá de ser a câmara municipal a fazer um esforço suplementar. Vamos ter de reduzir na dimensão do evento”, especificou.
“INCOMPREENSÍVEL”
Já na segunda-feira à noite, o presidente da Comunidade Intermunicipal (CIM) do Alto Minho, José Maria Costa, manifestava “estupefação” com a decisão “incompreensível” da DGArtes de não financiar a bienal de arte de Vila Nova de Cerveira.
“Esta decisão prejudica a programação da mais antiga bienal da Península Ibérica e de Portugal, mas lesa também uma afirmação cultural descentralizada e fora da capital do país”, afirmou José Maria Costa.
A candidatura da bienal de Cerveira é uma das cinco que foram consideradas elegíveis para apoio pelo júri, mas para as quais não há financiamento disponível.
Para o socialista José Maria Costa, que também preside à Câmara Municipal de Viana do Castelo, são “decisões destas que prejudicam a coesão territorial e aprofundam as fraturas culturais” no país.
“O esforço para manter eventos culturais de qualidade fora da capital são muito maiores, pois não beneficiam da cobertura dos órgãos de comunicação social da capital, não beneficiam dos mecenas da capital, nem das elites da capital”, frisou José Maria Costa.
O líder da CIM do Alto Minho, estrutura que agrega os 10 concelhos do distrito de Viana do Castelo, reforçou que “decisões como estas de administrações centralizadas empobrecem culturalmente o país”.
“A solidariedade dos municípios do Alto Minho e dos agentes económicos da região vão, estou certo, apoiar a Bienal de Cerveira”, destacou o autarca.
A Bienal Internacional de Arte de Cerveira, a mais antiga da Península Ibérica, realiza-se desde 1978.
Fernando Gualtieri (CP 1200)