Cerca de 300 pessoas manifestaram-se esta sexta-feira em Montalegre, entoando “futuro minado, não obrigado”, numa “demonstração de força” contra a mina de lítio a céu aberto prevista para o concelho e em defesa da vida das populações.
Sob o lema ‘não à mina, sim à vida’, participantes de todas as idades e de vários pontos da região e, até do país, concentraram-se na praça do município da localidade e percorreram durante uma hora as principais ruas em dia de Feira do Fumeiro, um dos eventos mais importantes do concelho.
“Esta demonstração de força diz tudo. O concelho não quer este tipo de desenvolvimento, como lhe chamam, pois é a destruição do concelho”, sublinhou o dirigente da Associação Montalegre com Vida, que convocou a manifestação, Armando Pinto.
Além do contrato já assinado entre a Lusorecursos Portugal Lithium e o Estado, para exploração na freguesia de Morgade, há ainda mais oito pedidos de prospecção, acrescentou.
Os manifestantes, munidos de camisolas e empunhando cartazes com mensagens de protesto, passaram duas vezes em frente ao recinto onde decorre a Feira do Fumeiro de Montalegre, aproveitando para entregar panfletos e alertar a população e visitantes sobre as consequências da exploração mineira.
Entre as palavras de ordem faziam-se ouvir: ‘futuro minado, não obrigado’ e ‘água sim, mina não’.
Um caixão, fazendo um “funeral simbólico” ao concelho de Montalegre caso a exploração mineira avance, e um barril de lata transformado em pilha gigante, numa alusão à utilização do lítio, chamavam a atenção no meio da manifestação.
Após o percurso, a manifestação regressou à praça do município e terminou com a entoação do hino nacional.
“Esta manifestação superou as nossas expectativas, pois é uma demonstração de força que nós não vamos aceitar que destruam a nossa terra”, sublinhou o dirigente da Associação Montalegre Com Vida.
Armando Pinto garante que “der por onde der” a população não irá aceitar que seja construída uma mina a “cerca de 100 metros das casas”.
O protesto contra a exploração de lítio em Montalegre contou ainda com a presença de outras associações, como os Unidos em Defesa de Covas do Barroso, do concelho vizinho de Boticas, onde também está prevista uma exploração.
“É uma manifestação de todos os movimentos que estão em vias de ter minas. Estamos todos juntos, pois a luta é a mesma”, destacou Nélson Gomes.
Para o dirigente desta associação, mais manifestações serão feitas se “fizerem falta”, recordando ainda o ditado popular: ‘abre os olhos mula que a carroça vai cega’. “É o caso, o Governo vai cego e nós temos que abrir os olhos”, considerou.
O Estudo de Impacte Ambiental (EIA) da concessão de exploração de lítio em Montalegre conclui que o projecto possui “impactes negativos” que, no entanto, “não são significativos”, “são minimizáveis” e de “abrangência local”.
O EIA do projecto ‘Concessão de Exploração de Depósitos Minerais de Lítio e Minerais Associados — Romano’, elaborado pela Lusorecursos Portugal Lithium, foi entregue em 6 de Janeiro à Agência Portuguesa do Ambiente (APA).
O resumo não técnico do documento, a que a agência Lusa teve este sábado acesso, conclui que o projecto “possui impactes negativos, no entanto, estes não são significativos, são minimizáveis e a abrangência é apenas local”.
Por outro lado, acrescenta, “o impacte positivo socioeconómico e a recuperação ambiental e paisagística irão trazer benefícios paisagísticos e da biodiversidade que se sobrepõem aos impactes ambientais negativos provocados”.
PressMinho com MadreMedia
Foto Pedro Sarmento Costa