O PS anunciou esta terça-feira que vai propor alterações ao decreto do Governo que revê a lei dos solos, num debate no qual o BE acusou socialistas e PSD de conivência com uma lei que “promove a corrupção”.
Durante o período de declarações políticas, no Parlamento, BE e Livre levaram a debate a recente alteração à lei dos solos, já promulgada pelo Presidente da República com algumas reservas e que será alvo de uma apreciação parlamentar no dia 24 requerida por bloquistas, PCP, Livre e PAN.
Refira-se que este controverso decreto-lei permite a construção e urbanização em terrenos onde actualmente não é possível.
Na intervenção inicial, a coordenadora do BE, Mariana Mortágua, desafiou os socialistas a pronunciarem-se sobre esta alteração legal que, na sua opinião, “dá o contexto e o pretexto para todos os favorecimentos, jeitinhos e favores”.
“A regra inventada pelo Governo para limitar a especulação é uma anedota. 30% dos imóveis não têm qualquer limite de valor e os outros 70% podem ser vendidos acima dos actuais preços de mercado. Senhor ministro Castro Almeida, lamento informá-lo que 125% de um preço especulativo não dá um preço moderado, dá um preço especulativo mais 25%”, alertou a bloquista.
PS: PROMOVER HABITAÇÃO
É neste ponto do diploma que o PS vai propor alterações, intenção que já tinha sido avançada no início da tarde no programa “Conselho de Líderes”, da TSF, pela líder parlamentar socialista, Alexandra Leitão, que afirmou que a sua bancada quer garantir que os preços de futuras casas ficam abaixo da mediana e não 25% acima, como está previsto no decreto do Governo.
A deputada socialista Maria Begonha salientou que a “prioridade máxima” do PS é “melhorar o acesso à habitação dos portugueses e em particular da classe média”. Begonha ressaltou que “apesar de este ser um diploma complexo” e de entender que “é preciso evitar fazer alterações a este documento”, a crise na habitação “tem que ser combatida em todas as frentes”.
“O problema é que o Governo apresenta-nos uma proposta em que introduz um conceito com o qual temos uma discordância absoluta, que é este conceito dos custos moderados”, salientou.
Pelo PSD, o deputado João Vale e Azevedo defendeu o diploma do Governo, argumentando que vai resultar no aumento da habitação, e acusou o BE de viver “num delírio económico”.
BE: “ESPECULAÇÃO”
Mariana Mortágua considerou incompreensível que o PS “esteja disposto a rasgar instrumentos de gestão territorial que foram criados para garantir a sustentabilidade do território e que são uma valorização das formas de gestão local do território, sem nenhum benefício para a habitação”, num “acordo com o PSD”.
“Quem permitir que esta lei continue e avance será conivente com uma lei que promove a especulação, que permite e promove a corrupção e que um dia pode produzir também um desastre que todos gostaríamos de evitar”, alertou.
LIVRE: “COMPROMTE FUTURO”
Também a líder parlamentar do Livre, Isabel Mendes Lopes, considerou que o decreto do Governo “compromete o futuro do país, não resolve o problema da habitação e aumenta a desigualdade”.
“Uma cidade só é de 15 minutos se os seus habitantes viverem perto do local onde trabalham. Ou seja, só é uma cidade dos 15 minutos se as empregadas domésticas puderem viver perto das casas onde trabalham, se quem trabalha nos cafés e restaurantes puder viver perto de onde trabalha. Mas não é isso que este PSD e o seu Governo querem fazer”, criticou.
CHEGA: “FUTURO PERTENCE AOS PRIVADOS”
Pelo Chega, o deputado Filipe Melo acusou BE e Livre de “hipocrisia” e afirmou que “o futuro pertence aos privados e o mercado tem que funcionar”.
“Nem todos os autarcas são corruptos, há autarcas de direita, felizmente, e às direitas, nem tudo entra no mesmo saco de gatos que é a esquerda e a extrema-esquerda juntos”, acusou.
Entretanto, a Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) considerou esta terça-feira que, na alteração à lei dos solos, é positiva a visão de colocar mais responsabilidades nas câmaras, mas defendeu que há melhorias que podem ser feitas ao diploma.
Com SIC Notícias e Jornal Económico