“É no quadro desta Constituição – que, como toda a obra humana, não é intocável, mas que exige para reponderação consensos alargados, que unam em vez de dividir – que temos pela frente tempos e desafios difíceis a superar”, afirmou esta quarta-feira o Presidente da República no seu primeiro discurso após a tomada de posse.
Escutado pelo Rei de Espanha, Filipe VI, o Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, Marcelo lançou alguns desafios “difíceis, complexos e envoltos em incógnitas”, defendendo, contudo, que para ultrapassar o clima de crise é preciso ir “mais longe, com realismo mas visão de futuro”.
“Temos de ir mais longe, com realismo mas visão de futuro, na capacidade e na qualidade da nossa educação e ciência, mas também da saúde, da Segurança Social, da justiça e da Administração Pública e do próprio sistema político e sua moralização e credibilização constantes, nomeadamente pelo combate à corrupção, ao clientelismo, ao nepotismo”, disse o Chefe de Estado na Assembleia da República.
Rebelo de Sousa acrescentou que será socialmente a favor “do jovem que quer exercitar as suas qualificações e procura emprego, da mulher que espera ver mais reconhecido o seu papel num mundo ainda tão desigual, do pensionista ou reformado que sonhou com um 25 de Abril que não corresponde ao seu atual horizonte de vida, do cientista à procura de incentivos sempre adiados ou do agricultor, comerciante e industrial, que, dia a dia, sobrevive ao mundo de obstáculos que o rodeiam”.
“O Presidente da República será um guardião permanente e escrupuloso da Constituição e dos seus valores (…) De pessoas de carne e osso. Que têm direito a serem livres, mas que têm igual direito a uma sociedade em que não haja, de modo dramaticamente persistente, dois milhões de pobres, mais de meio milhão em risco de pobreza, e ainda chocantes diferenças entre grupos, regiões e classes sociais”, afirmou.
Portugal no mundo
“Temos ainda um grande papel a desempenhar no seio das nações, como a mais ecuménica de todas. O mundo não precisa hoje da nossa insuficiente técnica, nem da nossa precária indústria, nem das nossas escassas matérias-primas. Necessita da nossa cultura e da nossa vocação para o abraçar cordialmente, como se ele fosse o património natural de todos os homens”, acrescentou o 20.º Presidente da República portuguesa.
“Valemos muito mais do que pensamos ou dizemos. O essencial, é que o nosso génio – o que nos distingue dos demais – é a indomável inquietação criadora que preside à nossa vocação ecuménica. Abraçando o mundo todo”, conclui Marcelo Rebelo de Sousa.
Fernando Gualtieri (CP1200)
Foto: Leonardo Negrão