Sete anos e três meses de prisão e pagamento de dez mil euros de indemnização à vítima. Foi esta a pena esta quarta-feira aplicada pelo Tribunal de Braga ao cidadão alemão que foi julgado por ter algemado e abandonado uma jovem, sua compatriota, atada a uma árvore, numa mata do Gerês, em Terras de Bouro.
Gerhard Branz, de 56 anos, que está em prisão preventiva na cadeia de Braga foi julgado por ter preso, em 2019, uma mulher da mesma nacionalidade algemada a uma árvore numa mata do Gerês.
Em julgamento negou ter tido intenção de a matar e negou, também, ter abusado sexualmente dela numa pensão na vila do Gerês, dizendo que as relações que mantiveram não foram forçadas.
ACUSAÇÃO
A acusação do Ministério Público diz que, em 15 de Fevereiro de 2019, agiu para matar a vítima, então com 29 anos, que sofria de perturbações de personalidade, deixando-a ao frio, sem poder comer, nem beber e sujeita a ser devorada pelos lobos.
Abandonou-a de tarde, foi à pensão buscar as coisas, dele e dela, (incluindo escovas de dentes e cabelo) e fugiu para a Alemanha.
A vítima, que esteve algemada seis a sete horas, conseguiu desenvencilhar-se da venda, gritou por socorro, sem ninguém a ouvir, e acabou por conseguir rebentar com as algemas, libertando-se, ao cair da noite. Aí correu pela floresta clamando por ajuda e chegou a uma estrada onde foi encontrada pelo mestre florestal Luís Vieira que a ajudou e chamou a GNR e uma ambulância que a levou ao Hospital de Braga.
“LIBERTAR-LHE A CABEÇA”
No dia do crime, o arguido disse-lhe que iriam dar um passeio pela floresta para ajudar a “libertar-lhe a cabeça e a livrar-se de pensamentos negativos”. Foram de carro até Vilar da Veiga, Terras de Bouro, e entraram a pé numa mata por um trilho.
Pelo caminho ele ia dizendo que aquilo a libertaria de “todos os males”. Pararam e ele, tapou-lhe os olhos e o nariz com um pano e algemou-a, mas com os braços envolvendo o tronco de uma árvore: “é para tua purificação espiritual!”, disse, garantindo que a ficava a ver e que a terapia duraria duas a três horas.
De imediato, saiu do local, deixando-a sozinha, facto de que ela só se apercebeu minutos depois. Em pânico, tentou chamá-lo e não conseguiu. Lutou para se desenvencilhar do pano, o que logrou alcançar e roçou os braços na árvore, conseguindo que as algemas partissem, embora ficasse com os pulsos lacerados.
O MP salienta que o local é frio e húmido, e nele pouca gente circula sendo frequentado por lobos.
Os dois haviam chegado ao Gerês na madrugada do dia 10. A partir daí, o arguido aproveitou-se do facto de a vítima ter problemas de saúde mental, para abusar sexualmente dela.
“TERAPEUTA”
Gerhard Branz tinha-a conhecido em Osnabruck, através do então namorado dela, e conseguiu introduzir-se na casa deles, dizendo ser terapeuta, – o que era falso dado ser electricista – e prontificando-se a ajudar a resolver os problemas do casal.
Convenceu-os a ter relações sexuais na sua presença, com o argumento de que isso fazia parte da terapia. E dava medicamentos. A seguir propôs-lhes uma viagem a Sevilha, Espanha, para melhorar a saúde dela, e eles anuíram. A partida ficou marcada para 7 de Fevereiro.
Só que, na véspera, o namorado zangou-se e cortou com ela, facto de que o arguido se aproveitou convencendo-a a fazerem juntos a deslocação.
Partiram dia 6, de carro, que o Gerhard guiou até ao Gerês, dizendo que era melhor para o tratamento. Hospedaram-se na residencial O Pimpão e disseram que sairiam a 17.
O arguido foi detido em Janeiro na Alemanha e extraditado.
Luís Moreira (CP 7839 A)