O presidente da Câmara de Viana do Castelo disse, esta terça-feira, ter sido completamente “colhido de surpresa” pelo anúncio de que a piroga encontrada há 39 anos no rio Lima vai integrar o espólio do museu de Caminha.
“Fui colhido de surpresa, completamente. Não fomos [Câmara de Viana do Castelo] consultados. Vou questionar o director nacional [Património Cultural IP]”, afirmou Luís Nobre.
O autarca socialista, que respondia a uma interpelação do vereador do PSD, Paulo Vale, adiantou que vai estabelecer “contactos, de forma urbana e cordial”, para perceber se a cedência é “irreversível”.
Na segunda-feira, a Câmara de Caminha (PS) revelou que vai celebrar com o Património Cultural IP um contrato de cedência da primeira piroga monóxila encontrada há 39 anos no rio Lima, em Viana do Castelo, para ficar exposta no museu municipal.
O acordo prevê a cedência da piroga, embarcação construída a partir de um único tronco de árvore, classificada como tesouro nacional, por um período de cinco anos, prazo que pode vir a ser renovável.
Designada Lima 1, a piroga remonta ao período entre a segunda metade do século X e a primeira metade do século XI.
A Câmara de Caminha adiantou que a “piroga foi retirada do leito do rio Lima, em Viana do Castelo, no dia 2 de Março de 1985, e transportada para um armazém pertencente à capitania local, onde passou despercebida”.
Viria a ser comprada por Raúl de Sousa, à época funcionário da Câmara de Caminha e pertencente ao grupo organizador do Museu Municipal de Caminha (MMC).
“Quero perceber se é normal vender-se património deste interesse”, afirmou hoje Luís Nobre ao executivo municipal, lembrando que, em 2020, o município manifestou às entidades competentes “a vontade e o interesse” em ter aquele património exposto na capital do Alto Minho.
Ao todo, foram encontradas sete pirogas no rio Lima, classificadas como Conjunto de Interesse Nacional (CIN), tendo-lhes sido atribuída a designação de “tesouro nacional”, segundo decreto publicado em Diário da República, em Junho de 2021.
Do conjunto, a descoberta da primeira piroga remonta a 1985 e a última a 2023.
As peças encontram-se no Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática (CNANS), em Lisboa.
“Trata-se de um conjunto que, no contexto da Península Ibérica, não possui paralelo tendo em conta o número de embarcações envolvidas, constituindo um testemunho notável da navegação que se praticava no rio Lima desde a Idade do Ferro até à Baixa Idade Média, datações estas obtidas por radiocarbono”, é referido no documento que confirma a classificação.
A classificação foi proposta ao Governo, em 2020, pela DGPC.
As pirogas monóxilas são feitas a partir de um tronco de árvore, escavado para o efeito, sendo que este tipo de embarcação é conhecido, na Europa, desde a pré-história, mais precisamente desde o neolítico.
No caso das embarcações encontradas no rio Lima, as duas mais antigas estão “datadas por carbono 14, dos séculos IV/III Antes de Cristo”.