Um artigo de opinião do padre António Magalhães Sousa, de Dornelas, Amares, sobre a realização de visitas pascais proibidas no contexto de emergência nacional, levantou enorme controvérsia na rede social Facebook.
Publicado este Domingo de Páscoa na página ‘Sopro e Vida’, e intitulado ‘Palhaços de Deus’, o texto deu azo, entre manifestações de apoio ou de perplexidade, a inúmeras criticas.
António Magalhães Sousa começa o artigo escrevendo que “numa época em que é pedido recato e recolhimento (bom senso!) há sempre uns sujeitos (também chamados de “padres”) a servir-se de símbolos religiosos e queridos ao Povo para dar largas à sua vaidade, baixeza, parvalhice e assim abandalhar e profanar o Sagrado”.
Chama-lhes – “benignamente”- “palhaços”.
E pergunta: “apesar de tradição em muitas terras, é imprescindível (vital) a Cruz andar a percorrer ruas e calçadas de aldeias e cidades? Não. É fundamental para a salvação? Não. Alegra o coração do Ressuscitado? Não. Contribui para aumentar a fé do Povo? Não. Quem pode ganhar com isto?”.
Responde de seguida: “O idiota que, às voltas na cama, pariu estas ideias iluminadas, únicas, redentoras da humanidade”.
Os comentários, claro, sucederam um após outro, sobretudo de mulheres.
Anabela Gomes, uma das primeiras a responder à ‘provocação’ do padre. Escreve: “tenho pena que o Sr. Padre António Magalhães Sousa, pastor da igreja, homem educado e esclarecido na fé e … alguns dos seus discípulos venham fazer críticas humilhantes ao seu próximo em pleno dia de Páscoa”.
Célia Antunes ‘posta’ um comentário semelhante: “um texto bastante agressivo para um padre mas pronto nada que não esteja habituada deste senhor padre!!!!”.
Opinião bem mais favorável é de Sandra Dias: “gostei muito deste texto com que este padre mima os seus pares, entre muitas passagens esta “preferem barregar ao lado das ovelhas e andar aos pinotes” é soberba!!”.
Já Cristina Sousa comenta: “este Sr. Padre muito pobre de espírito prefere dar entrevistas à CMTV… quem aqui estará errado???”.
E Sérgio Costa diz: “sr. Padre, não se esconda, porque aquilo que disse é grave… Gravíssimo, não se esconda”.
“Isto é comentário de um padre? Está bonito, está! O que vai por aí, pastor!!! Até Cristo ficou arrepiado”, atira Manuela Gomes.
Joaquim Barbosa manifesta o seu desacordo com a opinião do sacerdote da seguinte forma: “Bom Senso era não escrever isto neste tom, porque me parece que quem quer protagonismo não são os que andaram nos carros com a cruz, mas sim quem escreveu isto,f alou em Deus, duvido que ele goste”.
Para João Alberto Sousa Correia o texto é “um exemplo de como a forma retira força e credibilidade ao conteúdo…”.
TEXTO NA ÍNTEGRA
Palhaços de Deus
“Numa época em que é pedido recato e recolhimento (bom senso!) há sempre uns sujeitos (também chamados de “padres”) a servir-se de símbolos religiosos e queridos ao Povo para dar largas à sua vaidade, baixeza, parvalhice e assim abandalhar e profanar o Sagrado. Atentar contra a vida! Dar mau exemplo. Benignamente, poderia chamar “palhaços”.
Apesar de tradição em muitas terras, é imprescindível (vital) a Cruz andar a percorrer ruas e calçadas de aldeias e cidades? Não. É fundamental para a salvação? Não. Alegra o coração do Ressuscitado? Não. Contribui para aumentar a fé do Povo? Não. Quem pode ganhar com isto? O idiota que, às voltas na cama, pariu estas ideias iluminadas, únicas, redentoras da humanidade.
O povo gosta? Sim, a maioria das pessoas – sobretudo não educada e esclarecida na fé – gosta de circo, de palhaços, de música pimba, de desgarradas, de anedotas picantes, até de umas pingas a mais. Aliás, com “papas e bolos se enganam os tolos”. É uma alegria! Até a televisão anuncia! Não é aconselhado pelas autoridades civis e religiosas mas o nosso “paroco” (sim, sem acento) deu a volta e arranjou maneira de os fintar. É espetacular!
Quando dizem que a Igreja vai acabar pelos padres, até acredito. Sobretudo se aqueles que deviam ser guias e condutores esclarecidos do povo, em vez de assumirem a sua missão na descrição e orientação esclarecida, preferem barregar ao lado das ovelhas e andar aos pinotes, por entre entrevistas e post’s a alardear: “eu sou um herói”; “todos falam de mim”; “tenho o povo a meus pés (debaixo de…)”; “o palco é todo meu”; “Cristo ressuscitou, porque eu o salvei”; and so on… O Diabo provocou Jesus com algo semelhante…
Meninos mimados, falaciosos, demagogos, adoradores do santo umbigo alérgicos ao Evangelho: “quem se humilha será exaltado, quem se exalta será humilhado”. Arrogantes sem darem conta que ser falado não significa ser inteligente: Pilatos até no Credo é citado; Judas anda na boca do povo; e a multidão, quando vive embriagada ou manipulada por oportunistas até prefere Barrabás em vez de Jesus. Mas isto só faz sentido para quem conhece, acredita e vive a partir do Evangelho…”
(P. António Magalhães Sousa)
Fernando Gualtieri (CP 1200)