Cerca de uma dezena de trabalhadores da Global Media, dona do DN, JN e TSF, entre outros, concentrou-se hoje no Porto em protesto contra a intenção de um despedimento colectivo de 81 pessoas.
“Defender a saúde dos trabalhadores, mas também emprego, salários e direitos”, era uma das frases que se podia ler numa das faixas que os trabalhadores exibiam durante a iniciativa organizada pelo Sindicato dos Trabalhadores das Industrias Transformadoras, Energia e Actividades do Ambiente (SITE) do Norte, que distribuiu durante a manifestação uma resolução intitulada ‘Contra o despedimento colectivo – A pandemia não pode justificar tudo’.
“Estamos aqui hoje para fazer uma acção de denúncia ao despedimento colectivo que achamos que está a ser conduzido de uma forma muito irregular, porque as secções têm falta de pessoas, não têm excesso de pessoal”, explicou à agência Lusa Vitorino Almeida, ‘designer’ gráfico do jornal O Jogo e um dos trabalhadores que recebeu a 30 de Outubro uma carta de ‘Despedimento Colectivo’, cujo emissor é a Comissão Executiva da Global Media Publicações SA, na qualidade de empregadora.
Na carta de despedimento colectivo, à qual a Lusa teve hoje acesso, posse ler-se que os “motivos de mercado e estruturais” levaram o grupo Global Notícias à “decisão de restruturar a sua organização produtiva de forma a reagir ao desequilíbrio económico-financeiro estrutural da empresa tendo em conta os indicadores e perspectivas de evolução do mercado em que se insere”.
Em declarações à Lusa, João Victoria, dirigente do SITE Norte, explicou que a acção de luta tem o objectivo de “tentar a reintegração” dos trabalhadores que não estão na disponibilidade de sair.
“Estamos a falar de um despedimento de 81 trabalhadores em 2020 de uma empresa que em 2014 também fez um despedimento colectivo com cerca de 100 trabalhadores e que ainda este ano recebeu das mãos do Governo, ao abrigo de um contracto de publicidade institucional, um milhão de euros, aplicou ‘lay-off’ a 530 trabalhadores, recebeu capital estrangeiro de 15 milhões de euros e ainda teve perdões de dívidas”, alertou.
Referindo a venda dos edifícios do Diário de Notícias e inclusivamente também do Jornal de Notícias, o sindicalista destacou que, no actual momento “de maior necessidade dos trabalhadores, (…) [o grupo Global Notícias] não hesita em despedir”.
O Sindicato de Jornalistas solidarizou-se com a acção de luta organizada esta quarta-feira pelo SITE Norte e com os trabalhadores que estão abrangidos pelo despedimento colectivo.
Segundo Leonor Ferreira, uma das vice-presidentes do Sindicato de Jornalistas (SJ), há 17 jornalistas envolvidos no despedimento colectivo da Global Media entre os 81 trabalhadores.
“É importante mostrarmos que estamos unidos e mostrar à administração que esta não é a melhor forma de se resolverem os problemas. (…).
“Quando há dificuldades, seja por má gestão, ou não seja por má gestão, quem paga são sempre os mesmos. Há despedimento dos trabalhadores”, lamenta a dirigente sindical, recordando que em 2014 houve um despedimento colectivo naquele grupo e que quatro ou cinco anos antes houve um outro.
Para a dirigente sindical, este problema na Global Media é “cíclico”.
“Tem de se começar a pensar que isto não pode ser assim. Sobretudo, porque estamos numa crise sanitária. Estamos em plena pandemia. Este foi um grupo, como tantos outros, que receberam apoios, nomeadamente colocaram os seus trabalhadores em ‘lay-off’ para terem acessos a apoios e três ou quatro meses depois estamos nesta situação com 81 despedidos”, disse.
Na ‘Resolução’ distribuída esta quarta-feira pelo SITE Norte, aquele sindicato recorda que a Global Media, dona do Diário de Notícias, Jornal de Notícias, O Jogo, rádio TSF, entre outros órgãos de comunicação, “obteve através de investimentos de capital e de perdões de dívida mais de 15 milhões de euros” e que “não aceitam que sejam sempre os trabalhadores a pagar a factura!”.
A agência Lusa contactou esta tarde o grupo Global Notícias, mas até ao momento não foi possível obter resposta ou qualquer comentário.