No momento em que a sociedade portuguesa vive um (aparente) momento de apaziguamento sindical, a corrupção foi o tema de conversa que mais se ouviu entre as cercas de duas mil manifestantes que esta segunda-feira participaram nas comemorações do 42.º aniversário que a União de Sindicatos de Braga (USB) promoveu na Cidade dos Arcebispos. Os comunistas Carlos Almeida e Agostinho Lopes, e o social-democrata Firmino Marques falaram ao PressMinho sobre corrupção.
Enquanto Joaquim Daniel, coordenador da USB, falava das “violações do espírito e valores de Abril”, denunciando que o país “é hoje confrontado com um panorama de absoluto retrocesso social e económico onde os mais vulneráveis, as camadas mais desprotegidas da população, são sistematicamente penalizados por políticas de exploração no trabalho, de destruição de direitos sociais e laborais”, muitos eram os que elegiam a corrupção como o “maior inimigo” da democracia portuguesa.
“A corrupção é um inimigo de todos os valores do 25 de Abril”, concorda Agostinho Lopes, membro do Comité Central do PCP, lembrando, contudo que durante a Ditadura a corrupção também existia com “grande dimensão, que só não chegava aos portugueses “porque não havia uma comunicação social livre”.
“ O regime democrático é afectado pela imagem da corrupção, apesar de a corrupção ser um problema que extravasa o 25 de Abril”, reconhece.
“Foram, e são, as privatizações que permitiram o desenvolvimento da corrupção ao traduzirem-se numa enorme promiscuidade entre o poder político e económico”, avança o antigo deputado comunista eleito por Braga, referindo que “o maior inimigo” dos valores da Revolução dos Cravos é o “incumprimento” dos sucessivos governos da Constituição da República que, “por omissão ou inacção”, desrespeita a “essência” do 25 de Abril.
Também Carlos Almeida, vereador da CDU na Câmara de Braga, afirma que a corrupção “é um grande problema dos nossos tempos”, referenciando o “ modelo capitalista em que vivemos” como “proporcionador” da corrupção. “Não se pode dissociar a corrupção de um sistema político e ideológico assente no capitalismo e na concentração do poder económico ”, frisa.
Lembrando que o 25 de Abril também se deu para “combater a corrupção, a ganância e a concentração de poder e de riqueza”, Carlos Almeida lamenta que hoje se vivam “tempos de retrocesso a esse nível, o que tem criando condições para a corrupção se desenvolva”. “ É uma marca dos nossos tempos”, remata Almeida.
Inimigo do Estado de direito
“ A corrupção é um inimigo da democracia e do Estado de direito”, diz por sua vez o social-democrata e vice presidente da Câmara de Braga, Firmino Marques.
“Uma sociedade livre, justa e assente nos valores da dignidade humana tem que combater a corrupção”, refere. “A corrupção é antítese da democracia”, afirma, isto de “apesar da democracia ter instrumentos para se proteger da corrupção”. “Mas há sempre alguém que consegue ultrapassar estas blindagens criadas pela legislação”.
“ O 25 de Abril serve para nos recordar que é possível concretizar muito o que que pensámos ser uma utopia, nomeadamente o combate à corrupção, que, convém que se diga, não é um exclusivo da nossa sociedade nem das sociedades ocidentais mas de muitas outras”, conclui.
Fernando Gualtieri (CP 1200)