Em dia de comemoração dos 161 anos da fundação do concelho de Vila Verde, foram as vozes e o “orgulho” vilaverdenses que ecoaram mais alto na sessão solene, esta noite, nos Paços do Concelho.
As vozes de Raquel Fernandes (soprano) e da fadista pradense Isa de Castro, ambas brilhantemente acompanhadas pelo piano de Filipa Andrade e a viola de Filipe Pinho. E o presidente da Câmara Municipal, António Vilela, que – embora com a voz ‘embargada’ pelo surto gripal – anunciou, ‘alto e bom som’, a luta “até à exaustão” pelos projectos das variantes a Vila Verde (EN 101) e EN 205, assim como a edificação de um nó de acesso à autoestrada A3, na freguesia da Lama, no concelho de Barcelos.
“Do Governo exige-se que seja capaz de olhar para o país como um todo e mobilizar os recursos para onde os mesmos efectivamente fazem falta e mais se justificam, por isso não podemos esperar outra coisa que não seja a viabilização da construção destes projectos estruturantes para Vila Verde e para toda esta região”, referiu o autarca, “perplexo” com “os ziguezagues de quem tem nas suas mãos o poder de decisão”.
Numa cerimónia onde as ausências de uma grande maioria se fizeram notar, coube aos ‘indefectíveis’ os aplausos da praxe e mais algum brilho a um acto solene que – em abono da verdade – deve ser repensado.
O brilhantismo dos intérpretes locais acabou por ‘afagar as mágoas’ daqueles que persistem em comemorar Vila Verde como há 30 anos atrás.
António Vilela quebrou um pouco da monotonia com as críticas ao Governo, mas não evitou o ‘entediante’ discurso da apologia da obra feita e da projecção do futuro com “Vila Verde na linha da frente”.
Com o conta-quilómetros ligado ‘ao máximo’, lá abordou as incongruências da Infraestruturas de Portugal ao adiar investimentos que anteriormente havia assinalado como prioritários.
“Escapa ao nosso entendimento como pode um organismo estatal, num tempo, afirmar que esta via é de extrema prioridade e um investimento rentável do ponto de vista económico e, agora, num tempo em que esta necessidade se acentuou ainda mais, o mesmo organismo, vir afirmar exactamente o contrário”, referiu. Em causa os investimentos na rede viária concelhia com abrangência supramunicipal (variantes EN 101 e EN 205 / Requalificação da EN 101).
UNIÃO E “TEMPO DE FALAR VERDADE”
Por entre os compromissos de investimentos avultados nas escolas (2,5 milhões para as EB 2-3 de Vila Verde e Prado) e os milhões (com muitos zeros) para saneamento, Vilela garante que quer “manter Vila Verde na linha da frente”.
No fecho do discurso de cerca de 10 minutos, com o olhar já mais ‘inclinado à esquerda’, lá voltou a despertar os ‘cristãos novos’ destas andanças políticas: “Este é a tempo de estarmos, unidos de falar verdade, de lutar por objetivos comuns. Só assim, a nossa terra será mais atrativa e mais apelativa. Podem contar sempre comigo para este desiderato falando sempre de Vila Verde e dos vilaverdenses pela positiva”.
E o tom unificador, congregador e ‘pacificador’ ficou mais vincado na frase de fecho de discurso: “O meu maior desejo é que as crianças e jovens vilaverdenses, tal como todos nós, nunca deixem de ter orgulho no seu concelho, se identifiquem com os valores e as tradições que enriquecem e diferenciam o nosso território. Obrigado por tudo o que fizeram e continuam a fazer para que, por este país e por este mundo fora, se fale sempre de Vila Verde pelos melhores motivos”.
LIVRO ‘ANDRÉ SOARES EM VILA VERDE’
O momento de fecho do acto solene também não fugiu ao habitual: a apresentação de uma obra literária. No caso, as reminiscências vilaverdenses de André Soares, «o maior vulto do rococó português e ibérico e um dos nomes mais importantes do tardobarroco e rococó europeu», como assinala, no prefácio, a vereador da cultura, Júlia Fernandes.
Aliás, este “homem do Minho” tem origens em Vila Verde; mais concretamente, a Parada de Barbudo, terra de seu pai.
O autor da obra, Eduardo Pires de Oliveira, apresenta – em grande parte das mais de 80 páginas da obra hoje apresentada publicamente – duas das suas últimas obras: o retábulo mor da Igreja Matriz de Pico de Regalados e o retábulo da capela particular de Santa Rita de Cássia, da casa dos Barbosas, em Arcozelo.
A apresentação da obra mereceu aplauso e esteve a cargo de Luís Macedo, o actual presidente-executivo da CIM-Cávado.
Carlos Machado Silva (CP 3022)